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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Pé na estrada: Suiça (Parte 4: Lucerne)



E por fim, a parte final da história:

Precisávamos pegar o trem rumo a Lucerne dali a uma hora, então gastamos aquele tempinho dando uma volta no entorno da estação de Interlaken. Era tudo bem bonito, mas pela data e horário (noite do dia 25/12) não havia quase ninguém na rua, ou algo aberto. Ficamos preocupados com como iríamos comer chegando no destino, mas a única opção de restaurante perto da estação era muito mais do que "só" caro, então fomos "pro tudo ou nada". Devoramos os 4 uma caixa de Ferrero Rocher pra tapear a fome porque era o que tinha, e depois de um tempo, estávamos deixando Interlaken com direção a pequena e linda Lucerne.

Ao planejar nossa viagem pra Suíça, eu não fazia muita ideia de pra onde ir exatamente país afora, tirando claro a cidade do nosso amigo. Meu raciocínio sempre foi Geneva e Zurich porque é de onde se tem notícia da Suíça, mas assim que comecei a procurar pela parte turística da coisa, essa ideia foi meio que perdendo o sentido. Uma das cidades mais indicadas pra passar um dia (ou um pouco mais) e poder ver um resumo do país era justamente Lucerne. Ainda que meu planejamento inicial sequer contemplasse gastar com acomodação e ainda bem que comecei a trabalhar, porque né?, conversamos e entramos em um consenso de que valeria a pena passar um dia na cidade. O transporte pra lá (e de lá pro aeroporto) já estaria garantido pelo Swiss Pass, então o resto era se virar e aproveitar a cidade.

O percurso - que durou por volta de 2 horas - foi aproveitado basicamente por nós jogando truco (ensinei aos coreanos há tempos, e eles sempre pedem pra jogar quando temos chance). Só houve um problema: TODAS AS VEZES que um coreano decide brincar de algo que tenha o mínimo de competição, eles precisam fazer aquilo oferecendo alguma punição pro perdedor. Somando-se a isso o fato de os coitados não aguentarem mais comer chocolate (eles não tem o hábito e sempre acham tudo muito doce) e de termos um bocado com a gente ainda, adivinhem qual foi a punição?? Parece ironia, mas até pra mim que sou uma "formiga" já tava virando uma tortura.

Chegamos em Lucerne já não aguentando mais ver chocolate, mas ainda assim com fome, já que ninguém comeu direito naquele dia. A estação era enorme, e no piso inferior havia um supermercado (?!), nossa salvação no dia seguinte. Como estávamos com medo de que a reserva do hotel (que foi o que de melhor custo/benefício achamos pra basicamente dormir uma noite) expirar, saímos correndo até o endereço não sem claro nos perdermos no caminho! e depois de algum sacrifício, lá chegamos. Vimos um pedaço da cidade e tudo era muito bonito! O lago que envolve a cidade possui duas pontes que são famosos pontos turísticos lá, e elas (e tudo em volta) estavam iluminadas com enfeites de Natal, deixando tudo ainda mais legal!

Deixamos nossas coisas no hotel e fomos rumo à estação (que ficava a uns 10 minutos de lá). No percurso que fizemos pudemos perceber que comer não seria algo fácil aquela hora da noite naquele dia, mas resolvemos ir em direção ao mercado um coreano ainda correu na frente, pois queria comprar cerveja e o horário para venda de álcool já tava encerrando. Encontramos com ele já com a bebida comprada, mas assim que eu iria começar a escolher o que comprar, os funcionários passaram falando que o supermercado estava fechando. Achamos na estação um Chinese Takeaway (caso não saiba, é um tipo de "restaurante" que só vende a comida, e não tem nem onde sentar e aparentemente existe em TODA ESQUINA nessa Europa!), mas eu preferi me aventurar num Burguer King. Olhei os preços naquelas famosas plaquinhas e achei o olho da cara o tal "combo", mas qual foi a minha surpresa ao ver que tudo veio no tamanho grande, aparentemente uma "pegadinha do Malandro" pra pegar os turistas que passam por ali (já que até onde sei, em todo lugar o padrão é o médio). Voltamos pro hotel e comemos tudo por lá mesmo, batendo papo até altas horas e jogando outro jogo maluco coreano (eles também são ótimos pra inventar essas brincadeiras de "puxa-bate-faz-um-gesto").

Pouco antes de dormir, procurei no Google o que de fato havia disponível pra fazer na cidade (já deu pra ver que o planejamento pra lá não foi muito bem feito, né?!), e além de alguns monumentos a se visitar, muitas pessoas sugeriram dar uma volta de barco pelo lago. Ficamos animados com a ideia e, no dia seguinte, depois de fazer o checkout e deixar nossas malas na recepção do hotel, partimos pro supermercado pra tomar um café da manhã "low cost" e de lá pra saída do barco (que era em frente a estação). Descobrimos que também era possível usar o Swiss Pass - que era caro, mas de fato ilimitado! - e lá fomos nós em direção a pequena vila de Weggis, a pouco mais de meia hora de Lucerne.

A viagem em si foi linda, pois apesar de não estar exatamente calor, não estava muito frio, e o dia estava ensolarado como eu nunca vi na Irlanda! A paisagem era linda, e mais uma vez era possível ver as montanhas cercando o horizonte (a visão delas é muito parecida com as que ilustram a embalagem do Toblerone #gordices). Depois de muitas fotos, e de termos percebido que só dava pra ficar no primeiro andar do barco porque o segundo era reservado pra primeira classe #classemediasofre, chegamos em Weggis. Existe uma central de informações turísticas logo na chegada, mas algo estranho e engraçado aconteceu. A moça que nos recebeu - até simpatica por sinal -  já foi logo dizendo: olha, não tem muito o que fazer aqui não. Se quiserem, podem ir à direita e é possível visitar uma parte das montanhas por "teleférico", ou à esquerda vocês acham um parque. Ficamos assustados com a sinceridade da moça, mas por não dispormos de muito tempo (pois ainda queríamos andar em Lucerne em si), resolvemos só dar uma volta no tal parque.

O problema é que ele ficava mesmo perto (menos de 10 minutos) e pasmem, o "parque" era na verdade um playground minúsculo! Me senti chegando na ilha de Burano em Veneza (onde 11 em cada 10 comentários de quem já foi são: "Nothing special"). Mas acabou dando pra aproveitar o sol nunca pensei que iria falar isso estando na Suíça, e no inverno!!! Enrolamos mais um pouquinho sentados de frente pro lago, e pegamos o barco de volta à Lucerne.

Lá chegando, fomos encontrar dois amigos brasileiros, que moram em Galway e fazem parte do Ciência sem Fronteiras. Passamos mais uma vez no supermercado (!!) pra que eles - e nós - comêssemos alguma coisa, e demos uma volta por Lucerne, passando pelos arredores da cidade (ainda com muita coisa fechada, pois além de pós-Natal, era sábado), do rio e das pontes. Ainda fomos nos aventurar na busca de um souvenir - eu sempre compro um imã "de geladeira" pelos países que tenho ido - mas vou falar, quase desisti. O mesmo tipo de imã que eu comprei na Itália por 1 euro ou 2 libras em Londres, na Suíça foram SETE FRANCOS!!

Depois tivemos a cara de pau de, vendo nossos amigos com malas gigantes (pois haviam passado o Natal numa cidade no sul da França), irmos na recepção do hotel onde deixamos nossas malas o que havia sido um favor, e pedirmos pra deixarem as deles também, a essas horas apenas para podermos ir ao último ponto turístico antes de partirmos rumo ao aeroporto: o Monumento do Leão. Pelas fotos e pelo que lia, imaginava ser uma estátua pequenininha e boba, mas após quase meia hora andando, vi que estava errado. Ele é na verdade um leão esculpido numa parede de pedra enorme, muito maior do que eu esperava! Dizem que ele foi feito em homenagem à morte de soldados suíços numa tentativa de invasão da França, e o leão tem uma feição instigantemente triste!

Voltamos correndo pra pegar as malas, despedimos dos brasileiros e voltamos à estação há poucos minutos do trem partir. A viagem até Basel (onde fica o aeroporto) ainda demandaria por volta de duas horas. Encerramos assim nossa última viagem enquanto grupo de intercambistas amigos. De novo sem nenhum stress, e com tempo pra botar o papo em dia e matar a saudade daquelas piadas internas que só amigos de verdade entendem. Como resumo, a Suíça é linda, organizada e por vários motivos poderia sem considerada "o lugar dos sonhos" por muita gente, mas mesmo seus habitantes sabem que a vida lá é cara. Mesmo não tendo tanto tempo, acho que aproveitamos bastante e conhecemos muita coisa legal e com gosto de novidade.

Se nada mudar, o próximo "Pé na estrada" será também em direção a um "De volta pra minha terra" (apenas por alguns dias!), mas com algumas paradas extras pelo caminho. E que Março chegue logo!!!

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Pé na estrada: Suiça (Parte 3: Alpes - Jungfrau/Top of Europe)


Tivemos que acordar de manhãzinha, pois apesar da viagem até o destino final não ser tão longa, ela seria composta de várias paradas. Iríamos de carona até a cidade de Interlaken, e de lá pegar o trem que basicamente dá a volta no "circuito" Top of Europe. Explicando: Top of Europe, como o próprio nome diz, é o lugar mais alto da Europa, e faz parte de um circuito de pequenas estações de trem conectadas em torno de uma parte dos Alpes na Suíça. Como essa volta toda demora um bom tempo (normalmente se fica o dia por conta do passeio), precisamos sair cedo pra poder chegar com tempo de curtir tudo - lembrando que nessa época às 5 da tarde já não tem mais sol, e depois disso não seria possível aproveitar muita coisa.

Todo mundo estava no "modo zumbi" durante a viagem de carro, depois de ficar até altas madrugadas jogando video game. Sei que a questão "Mas-vocês-foram-pra-Suiça-jogar-video-game?!" pode eventualmente aparecer, mas nosso amigo tinha um jogo super legal em que os quatro podiam jogar ao mesmo tempo! Só isso já foi motivo pra qualquer turma se esbaldar, e nos divertimos sem pensar no amanhã. Literalmente! Mas ainda assim consegui ver algumas paisagens lindas no caminho, entre uma dormida e outra.

Chegamos em Interlaken antes das 10hs, e os meninos foram comprar os tickets. Talvez não tenha ficado claro, mas o Swiss Pass não dá direito ao roteiro do Top of Europe. Só até a primeira estação (e para a última). O roteiro tem sentido circular, e você pode definir por qual lado partir e chegar (até onde sei não tem muita diferença). Eu acabei comprando o meu com alguma antecedência, pois os coreanos acharam mais um mágico blog onde eles ganhariam um bendito Korean noodle e fizeram a reserva deles por lá, já eu comprei o meu separado. Gastamos um bom tempo na época de reservar isso, pois no ticket padrão você já faz a decisão do roteiro na hora que compra, e tentamos garantir que iríamos todos no mesmo sentido. O que eu não contava é que a mãe do nosso amigo tivesse cupons de 20% de desconto pra usar lá e, uma vez que os coreanos só reservaram, eles puderam cancelar o pedido e usar os cupons. Meu planejamento antecipado acabou sendo uma desvantagem dessa vez. :(

Conseguimos todos encontrar um roteiro em comum (iniciando em Lauterbrunnen), e começamos a subida. Conforme o trem ia rumo ao topo, mais os primeiros indícios de neve iam aparecendo. Fizemos a primeira parada até que o primeiro trem do roteiro em si chegasse. Além de gelo pois não era exatamente neve, haviam muitas lojas pra compra de material pra esqui, restaurantes e alguns hotéis. Meus amigos ainda foram na central de informações turísticas ver se havia como fazer uma das "pernas" da viagem a pé, mas o que informaram é que só com roupa e calçado apropriados seria possível. Como ninguém tinha isso (e eu ainda era o único sem tênis impermeável), todo mundo desistiu da idéia. Andamos mais um pouco, tiramos algumas fotos, e pegamos o segundo trem.

Na segunda parada já pude finalmente encontrá-la! Um mundo de neve na minha frente pela primeira vez na minha vida, onde pessoas andavam, brincavam e esquiavam. Era uma imensidão branca logo ao sair da estação, e mesmo me atolando diversas vezes (e MORRENDO de medo de cair, já que além de tudo meu tênis tem o solado praticamente liso), deu pra me divertir bastante, e finalmente brincar de jogar neve em todo mundo. Na hora de retomar a subida acabamos precisando esperar um segundo trem chegar, poucos minutos após a saída do primeiro, que já havia saído lotado pois era Natal mas isso não desanimou ninguém, pelo visto!

Pegamos o próximo trem, esse tendo o percurso com duração bem maior que os outros, e estando cada vez mais alguns milhares de quilômetros longe do nível do mar. Isso inclusive acabou nos servindo como um experimento meio estranho e engraçado: compramos um "chips" gigante na nossa visita ao supermercado no dia anterior, e conforme fomos subindo, o pacote simplesmente começou a inflar! Mas sério, chegou ao ponto de acharmos que ele ia explodir sozinho!

Por fim a gente decidiu abrir furando um buraquinho, just in case...

Ainda tivemos mais uma parada antes da chegada ao topo, onde numa estação com várias sacadas, era possível admirar a vista já considerável de boa parte das montanhas em volta - e embaixo. Tudo branco, e tudo lindo. Depois de algum tempo (acho que gastamos umas 3 horas desde a saída de Interlaken), lá estávamos nós, na parada final, e a 3454 metros de terra firme. Nessa estação na verdade existe uma "construção", que conta com restaurantes, banheiros e até uma loja da Lindt! Ao sairmos desse "prédio", ainda havia um pedaço onde dava pra ter mais contato com a neve, ver a paisagem e tirar fotos. Nesse momento a temperatura já estava no nível "estou congelando" (acredito eu que já na casa dos negativos), pois foi a primeira vez que senti frio, mesmo com todo meu aparato de inverno, que se consistia de: duas calças, sendo uma de moletom e uma jeans; 4 blusas de frio, de uma mais fina até o meu casaco; meia térmica; luva; cachecol e touca porque não está fácil pra ninguém. Tirei as luvas pra poder tirar uma foto e achei que minha mão iria petrificar. Mesmo assim, haviam uns idiotas irreverentes rapazes asiáticos tirando foto sem camisa lá... Ainda havia uma árvore de Natal enorme e uma bandeira também enorme da Suíça lá marcando presença, e sempre sendo motivo de disputa pra fotos por todos que chegavam.

Já caindo de fome, fomos todos almoçar, e enquanto meus amigos resolveram mesmo encarar o noodle coreano (até o suíço entrou na brincadeira), temi por minhas papilas gustativas e parti pra um sanduíche SUPER simples e que me custou 1 rim e meio. Depois de comer sem pressa, e de uma passada na Lindt, resolvemos já pegar o trem de volta, pois eles estavam disponíveis no esquema "Tele Sena" (de hora em hora). Isso inclusive foi motivo para que pegássemos o trem lotado, e boa parte de nós teve que descer sentada nos degraus da entrada do trem nos moldes de qualquer ônibus lotado pra ir pro trabalho no Brasil. Essa descida foi a mais longa de todas, já que o trem não parava em pequenas estações mais. O cansaço já estava batendo, e nesse momento o sol já se preparava pra se pôr. Após chegarmos a estação de início, pegamos o trem de volta a Interlaken.

Lá chegando, a mãe de nosso amigo já o esperava, e aquele seria nosso adeus a eles, que nos trataram e acolheram tão bem por aqueles dias. Mas a viagem não tinha acabado ali ainda, e estávamos a poucos minutos de embarcar pra mais uma cidade suíça.

Continua...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Pé na estrada: Suiça (Parte 2: Bern)


No dia seguinte, após todos terem tido a cara de pau de acordar mais tarde do que o combinado (já que a mãe do nosso colega nos daria carona e estava basicamente nos esperando), tomamos café da manhã e partimos rumo a Bern, a capital de fato da Suíça. A cidade não fica exatamente do lado de Fribourg, mas era muito mais perto do que a viagem do dia anterior. Ao chegarmos lá, nossa gentil mãe-motorista foi dar uma volta, e tivemos tempo para andar pela cidade.

Bern é linda. Tem a típica cara de cidade suíça, e muito do estereótipo que temos no Brasil de como a Europa de fato é, algo que já comentei ter sentido em Londres. Pudemos passar por pontos onde se dava pra ver a cidade como um todo, e logo depois andamos pelas margens ao longo do rio que corta a cidade, até uma ponte que ligava à parte mais central. A ideia era visitarmos dois Christmas Markets (lembrando que já estávamos no dia 24 de Dezembro) e andarmos pela cidade.

Encontramos um mercado pequeno, que estava acontecendo em frente a uma bela igreja. Demos uma volta por ele, e nosso amigo suíço insistiu para que entrássemos na igreja. Confesso que eu já estava bem cheio de visitar igreja (principalmente depois de todas que vimos na Itália, e ainda mais tendo que pagar pra entrar), mas ela tinha uma estrutura diferente, e pudemos visitar a parte de cima que dava vista para todos os limites da cidade. A subida foi um pouco cansativa. Não chega a ser nenhuma Basílica de São Pedro, mas deixa qualquer claustrofóbico (a escada é em caracol e estreitíssima) e cardíaco de cabelo em pé. De lá de cima pudemos ter uma vista mesmo muito bonita, e pude perceber algo que já havia notado desde nossa viagem vindo do aeroporto: a Suíça é mesmo cercada de montanhas! Pra onde se olha, na linha do horizonte você vai encontrar uma montanha coberta de neve (na galeria de fotos no final da série de posts fica bem explícito isso). Tomadas as devidas proporções e claro, tirando a neve, foi algo que me fez lembrar minha cidade, chamada não a toa de Belo Horizonte.

Descemos, e ainda dentro da igreja encontramos com a mãe do nosso amigo. Saindo de lá, demos uma volta pela parte mais central da cidade até encontrarmos algo pra comer. O responsável por matar a nossa fome foi um cachorro-quente com salsicha suíça autêntica que nem foi tão cara, mas olhando ao redor já comecei a me apavorar com os preços de tudo que via pela rua. Ao sairmos de lá, fomos visitar o segundo mercado de Natal, esse sim bastante grande, com inúmeras opções de presentes como itens de artesanato e até mesmo o famoso chocolate, assim como encontramos um "bar" onde todo mundo comprava uma bebida que já havíamos visto no mercado anterior: é uma mistura de vinho quente e cravo, aparentemente muito comum lá, já que MUITA gente estava bebendo. Havia inclusive a opção de pegar a bebida e bebê-la mercado a fora, e depois voltar pra devolver a caneca (pegando de volta o dinheiro do "depósito" já pago, ou apenas ficando com ela, caso quisesse).

Saímos de lá quando as primeiras barracas desarmando já anunciavam que era hora de ir embora. Demos mais uma volta rápida pela cidade, onde podemos ver a sede do parlamento, e ficamos sabendo que não é incomum encontrar os políticos de lá nas lojas e restaurantes das redondezas. Fico imaginando isso em alguns lugares no Brasil, poderia não acabar bem. Passamos ainda em um supermercado, para comprarmos algo pra comer na viagem que faríamos no dia seguinte para os Alpes. Achei inclusive Guaraná Antarctica lá, e fiquei me perguntando o porquê de, mesmo com a quantidade absurda de brasileiros em Dublin e na Irlanda em geral, não termos uma seção de produtos brasileiros ou pelo menos um guaraná em algum canto nos supermercados por aqui...

Como última parada, passamos em frente ao relógio principal da cidade, em uma torre muito bonita por sinal. Nossa mãe-turista criou uma expectativa enorme sobre o que acontecia com o relógio quando se completava uma hora, mas acabamos ficando olhando um pro outro depois das badaladas. Aparentemente algo acontecia antigamente, mas como ela se recordava de ter visto na sua infância, algo parece ter mudado desde então, rs.

Partimos então em direção à casa de uma tia de nosso amigo, para a celebração de Natal da família. Após um tempinho de viagem, chegamos num conjunto de casas mais isoladas. A casa era linda, e toda feita de madeira. Tão grande que fizemos um tour guiado por ela! Ao chegarmos, fui fazer a gracinha de me apresentar em francês com uma das únicas frases que sabia falar e a tia cismou o resto da noite que eu falava a língua! A família estava de fato reunida, com tios, primos, avô e avó, todos simpaticíssimos, ainda que os mais velhos não falassem inglês. Aliás, é engraçada e ao mesmo tempo incômoda essa sensação de tentar e não conseguir se comunicar por não saber língua em comum. Por isso, por mais que existam pessoas que levantem a bandeira de que o inglês acabou por ser "imposto" pela postura imperialista norte-americana, ou pela história de guerras e dominação britânica, o fato é que todo mundo conseguir se entender usando uma língua é algo mesmo fantástico, e de fato necessário.

Nos empanturramos de tanto comer fondue! Segundo a tradição da família, se servem opções diferentes da comida (tínhamos a tradicional com 3 queijos, e uma que levava alho) e se revezavam as opções pela longa mesa ao longo do tempo. Houveram as trocas de presentes e todos conversavam (em francês) com muita alegria. Depois que tivemos uma torta de sobremesa, um dos tios nos convidou para conhecer os cavalos da família. Pra falar a verdade foi a primeira vez que cheguei perto de cavalo, mas foi bem legal, e ainda podemos dar de comer pra eles! Após um tempo de conversa, nos despedimos de parte da família, e ainda demos um último pulo na casa da avó para vermos dois pôneis que eram uma graça!

Voltamos pra casa, e depois de mandar um vídeo de Feliz Natal pra minha família (com a participação dos meus amigos dizendo a frase em português!) varamos a noite no video game, mesmo sabendo que o combinado pro dia seguinte era acordar cedo, e dessa vez não dava pra furar!

Continua...

domingo, 24 de janeiro de 2016

Pé na estrada: Suiça (Parte 1: Fribourg)



Nota: Esse post está MEGA atrasado por motivos de: a dona das fotos estava indisponível. Preciso fazer um exercício de memória, e espero lembrar de tudo que aconteceu há mais de um mês atrás. Obrigado. De nada.

A idéia dessa viagem surgiu há um bom tempo, quando um dos vários suíços que estudava na nossa escola convidou um dos meus amigos pra passar uns dias na sua casa - o que aconteceu no início de Agosto, e o convide acabou se estendendo a alguns outros amigos, inclusive a mim. Eu não era exatamente 100% próximo dele, mas começamos na escola (ainda que em níveis diferentes) quase que ao mesmo tempo, estávamos sempre na mesma roda de amigos, e logo no finalzinho ainda fomos todos da mesma sala. Como a possibilidade de ir pra Suíça não era algo exatamente ruim (mesmo estando com o orçamento apertado na época, e nem pensando em encontrar emprego) já começamos a planejar e pouco tempo depois compramos a passagem, aguardando apenas para a fatídica época, em Dezembro. Precisei inclusive apelar para o lado sentimental ao aceitar meu emprego, dizendo que precisaria dos dias próximos ao Natal pra viajar com meus amigos, já que do contrário eu sequer teria onde celebrar a data, primeira na minha vida longe da minha família, e a mais importante dentro desse conceito de "reunir a galera". Fim do flashback.

E lá estava eu indo pro aeroporto, dessa vez já estando em Dublin, no dia 23 de Dezembro. O início dessa viagem já foi bem legal, pois pude rever meus três amigos coreanos de Galway (sim, viajamos todos juntos de novo), poucas semanas depois de ter me mudado pra Dublin. Botamos o papo em dia e embarcamos rumo a Basel, cidade suíça que fica na fronteira entre a Alemanha e a França e pra onde a Ryanair vai, então não dá nem pra reclamar. Ao chegarmos algo engraçado aconteceu na imigração: o agente perguntou pra onde eu iria, e eu prontamente respondi a cidade do nosso amigo suíço, chamada Fribourg. O problema é que na França existe uma cidade de mesmo nome, e como estávamos de fato na fronteira (havia no aeroporto placas que indicavam saídas rumo a Alemanha e França), acabamos eu e ele nos enrolando. Foi algo do tipo:

- Pra onde você tá indo?
- Friboug.
- Na França?
- Sim... Não! Na parte francesa da Suíça.
- Ah, ok... Então você tá indo pra França?
- Sim... Não, pra Suíça.
- Certo, então. Pode ir, obrigado.

Depois da bagunça, encontramos além do nosso amigo-anfitrião, nossa outra querida amiga suíça, que esteve com a gente em Como, na Itália. Depois de beijos e abraços, compramos o famoso Swiss Pass (ticket que dá acesso ilimitado aos meios de transporte em toda a Suíça e que custa os olhos da cara, válido para os próximos dias que passaremos lá). 

Como disse, precisávamos ir do aeroporto até a casa de nosso amigo. O problema era que a distância era bem longa, mas nossa gentil amiga que já havia feito o caminho da ida de carro, deu carona a nós todos. Chegamos no aeroporto no início da tarde, mas com todo o percurso de carro (que deu bem mais de 2hs) chegamos na casa dele já anoitecendo, o que não acontece muito tarde no inverno europeu.

Mais uma vez fomos surpreendidos com relação a acomodação pois, por mais que estivéssemos falando de Suíça, eu não esperava algo mais do que um colchão num cantinho de um quarto pra gente o que já seria de muito bom grado pra quem estava de favor, hehe, mas de novo o que vimos foi uma casa linda, enorme, numa espécie de condomínio - que na Europa normalmente é chamado de "vila" - já bem afastado da cidade. Todos os membros da família nos receberam super bem, e todos falavam inglês bem, especialmente a mãe, com quem passamos boa parte dos dias seguintes. Tivemos um quarto só pros meninos, e já fomos presenteados com barras de chocolate suíço produzidos localmente (na cidade) esperando pela gente nos aposentos.

Como já não tinha muito o que fazer pelo horário que chegamos (e já com bastante fome), jantamos com a família toda reunida, e depois nosso amigo nos convidou pra darmos uma volta em uma estação de esqui próxima a sua casa. Fiquei tentando imaginar onde seria esse "próximo", já que não havia nada em volta a não ser casas enormes. Foi aí que a segunda surpresa do dia apareceu: enveredamos por uma floresta, no meio da noite, e sem NENHUMA iluminação artificial. O mais legal? Só com a luz da lua a gente conseguia se guiar e enxergar tudo! Não sei se é porque algo do tipo nunca me aconteceu antes, mas achei surreal. Estávamos no meio de uma floresta, com árvores enormes, quando a noite já havia caído completamente, e o que iluminava tudo era apenas o luar!

Chegamos no final da floresta, onde a estação deveria estar funcionando. Deveria, porque esse inverno não teve nenhum sinal de neve na Suíça, com isso não havia como esquiar em muitas estações país afora. Aliás, ao ir pra lá um dos meus objetivos pessoais era justamente ver neve pela primeira vez na minha vida, mas alguns colegas de sala vindos da Suíça já nos últimos dias de aula me alertaram que era bem possível que não houvesse neve. O que eu não esperava era que o clima estaria mais ameno do que em Dublin, rs.

Terminamos o dia com a última surpresa do dia: nosso amigo, como bom geek que se preze, tinha um verdadeiro salão de jogos na sua casa, com mesa de ping-pong, totó ou pebolim, dependendo de onde você seja no Brasil, e todas as variedades de video-games e jogos que eu jamais imaginei. Fizemos intermináveis campeonatos de ping-pong até que nossa amiga suíça precisou voltar pra casa, e após mais algum tempo de diversão, fomos dormir exaustos pelo dia relativamente cheio, e nos preparando pra mais aventura no dia seguinte.

Continua...

domingo, 10 de janeiro de 2016

Retrospectiva 2015


Minha vida tem andado tão de cabeça pra baixo que só agora deu tempo de escrever uma retrospectiva. Mas ainda vale, né?

Eu nem estava muito empolgado a escrever sobre isso, porque tem tanta coisa acontecendo, e de fato a mudança de ano me pareceu a menor delas. Além disso, boa parte do que me aconteceu em 2015 está relatada aqui. Ainda assim, acho justo fazer um balanço do ano de maior novidades e mudanças na minha vida.

É engraçado lembrar - voltando um pouco mais - que no Natal de 2014 eu tinha acabado de voltar a morar com meus pais e irmãos depois de ter me desfeito literalmente de toda a minha "antiga" vida, já com o propósito de salvar grana pra vir pra Irlanda. Avançando um pouco, em Fevereiro pude viajar com toda a minha família (além de primos e amigos) pela primeira vez, e passamos momentos ótimos na região dos lagos, no Rio de Janeiro, torrando no Sol literalmente, pois uma noite não dormi, com queimadura nas costas, coisa que, apesar de tudo, eu adoro.

Depois disso foi basicamente contar os dias pra poder sair do meu antigo trabalho (uma das minhas maiores alegrias dos últimos tempos), o qual eu realmente fiz, contando quanto tempo faltava igual a um presidiário.

Esse calendário ficava na minha mesa, no trabalho, e eu fui riscando mês a mês até dar tchau.

Depois disso, veio a Irlanda, e tudo o que aconteceu aqui. Dos primeiros momentos tendo que usar inglês, dos dias meio assustadores no hostel que fiquei, seguidos de uns bons momentos de solidão na residência estudantil que fiquei inicialmente. E aí a escola, os amigos, os housemates, as nacionalidades. Passei a viver uma vida onde a cada momento uma coisa nunca vivida antes acontecia. Tudo era novo, e tudo ou quase tudo era motivo de aprendizado e admiração.

Passei a conviver com pessoas muito diferentes, mas ao mesmo tempo percebi que afinidades e semelhanças são possíveis de se encontrar independente de onde uma pessoa nasce. Mas também não dá pra deixar de lado os inúmeros choques culturais, mas tudo desagua em mais aprendizado.

Passei também a viver uma vida mais desacelerada, mas engraçado que em aproximadamente 7 meses eu raramente me senti num completo ócio, e de uma forma ou de outra me mantive ocupado (até fazendo trabalho voluntário no meio da lama). Mesmo estando em Galway.

E Galway. Ah, Galway. Cidade que eu tive paixão à primeira vista ainda que essa vista signifique uma busca no Google, mas que provou ser mais fria - e ainda mais bonita - do que eu esperava. Mesmo sendo compacta, foi suficiente pra que eu vivesse momentos que ficarão pra sempre na minha memória, por mais clichê que isso possa parecer.

Houveram ainda viagens. Algumas pela Irlanda, e outras pela Europa. A vontade de desbravar novos lugares e conhecer o que antes parecia inalcançável só cresce a cada novo local visitado. E particularmente pra mim, fazer isso acompanhado de amigos foi ainda mais legal.

E além de toda a diversão, vieram ainda momentos do lado profissional. O primeiro foi poder iniciar o curso na área que planejei, e que acabou sendo um dos motivos de ter escolhido a Irlanda. Fiquei ainda mais contente ao ver que conseguia entender o que o professor explicava, já que era oficialmente meu primeiro contato mais recorrente com nativos.

E além disso, houve também a questão do emprego. Desde as várias oportunidades pra ainda trabalhar na área de desenvolvimento de software (que eu não queria mais), dos incontáveis recrutadores que ligavam e desconversavam após saber que eu não tinha passaporte europeu até as entrevistas frustradas (mas que acabaram sempre me ensinando algo pra usar na próxima). E depois de tudo isso, consegui algo que nem nos meus mais loucos sonhos há um ano atrás conseguiria imaginar: uma oportunidade de trabalho na Irlanda, e num cargo que poderá me guiar a ser exatamente o que eu queria!

Terminei o ano passando o Natal com meus amigos na casa de um suíço (tema do próximo tópico), reunido com toda sua família. Considerando uma daquelas coincidências bobas da vida, foi engraçado passar essa data na Suíça, praticamente um ano após ter saído da casa onde eu morava sozinho, num bairro de BH chamado Nova Suíça.

O réveillon foi comemorado em Galway. Viramos o ano fazendo o que de mais fizemos no nosso período juntos ao longo de 2015: cozinhando e brincando. Acredito que não volto mais à Galway por algum tempo, uma vez que meus amigos já estão retornando pros seus países (e ter uma morando aqui em Dublin).

Olhar para 2015 pra mim significa basicamente ver um longo e contínuo aprendizado. E, uma vez que tenho isso como o principal lema na minha vida, eu não poderia estar mais realizado. Mas agora é olhar pra frente. 2016 já começa com desafios, e esse é outro lema que eu adoro!


Feliz 2016!!