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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Acomodação: o lado "de lá" da história


Tudo começou um pouco antes da minha viagem pra Itália, quando o casal de italianos com quem eu dividia a casa aqui comunicou que eles estariam de mudança em mais ou menos 2 meses, pois alguns amigos viriam da terra da Margherita tentar a vida aqui em Galway, e eles passariam a dividir uma casa entre si. Fiquei triste, pois minha relação com eles sempre foi muito boa, como já citei aqui antes, e de fato os considero amigos.

Com isso, a primeira ideia que eu e a outra housemate espanhola tivemos foi de dessa vez entrevistamos e escolhermos nosso novo companheiro de casa. O objetivo era tentar evitar o acontecido da última vez, quando nosso landlord apenas mandou uma pessoa pra nossa casa, e acabamos descobrindo ser uma pessoa com jeito e comportamento diferentes dos nossos, que pouco interage e parece viver num mundo à parte. Vale observar que obviamente cada um tem seu estilo de vida e ninguém precisa prestar contas do que faz ou deixa de fazer ao estar dividindo uma casa, mas a ideia inicial da minha housemate sempre foi tentar buscar alguém com o mínimo de coisas em comum o que praticamente excluiria irlandeses e sua fama de pouca higiene.

A princípio, ela quis limitar bastante as características da pessoa "ideal": não deveria falar espanhol ou português eu não participei disso, não poderia ser casal, e preferencialmente mulher. Precisei gastar alguma lábia com ela e convencê-la, pra que a gente conversasse com as pessoas primeiro, e não apenas julgar baseado em nacionalidade ou gênero. Sempre tive uma ótima relação com ela (ainda melhor do que com os italianos), mas já comecei a imaginar que seria difícil chegar a um acordo pro final dessa história.

Como já deve estar claro pelo que mencionei algumas vezes aqui, meu relacionamento com brasileiros aqui é pequeno. Já falei que às vezes sequer sei como agir com eles, e o quesito afinidade sempre é o mais importante, mas boa parte das vezes o problema é o fato do uso da língua. Cada um sabe o que faz, mas minha intenção ao sair do país não foi e não é continuar usando português. Ainda assim, como falei aí em cima, nunca pensei em descartar completamente brasileiros apenas pelo fato de serem brasileiros, coisa aliás que aconteceu comigo quando procurei casa por aqui no início. A proposta era conversar e ver no que dá.

Com isso, depois de avisarmos o dono da casa sobre nosso procedimento, aguardamos faltarem apenas algumas semanas para que o casal deixasse a casa, e iniciamos o processo. Criei um anúncio no Facebook, no grupo de acomodação mais comum aqui em Galway e meu Deus, houve uma tempestade torrencial de mensagens! Com o intuito de conversar com o máximo de pessoas possível pra poder analisar a que encaixaria melhor, gastei boa parte de uma noite agendando visitas com todas as pessoas que entraram em contato, e tirei o anúncio do ar em poucas horas, pois já nem tinha como encaixar mais gente.

No dia seguinte, avisei a minha housemate sobre o agendamento: 25 pessoas viriam dali a um dia, com uma diferença de 15 minutos entre elas, e ficaríamos basicamente o dia todo por conta disso. Ela quase teve um treco, e já imaginando que a italiana sequer permitiria essa quantidade de gente entrando em seu quarto, começou a pensar numa maneira de fazer isso de forma diferente. Tá bom, confesso que talvez tenha sido um pouco demais, mas só quis basicamente conversar e escolher o melhor, ué!

Sua idéia que discordei totalmente, mas argumentar com mulheres quando elas acham que estão certas é sempre um desafio, rs foi basicamente analisar o Facebook de todos que mandaram mensagem pra poder fazer uma pré filtragem. Acho totalmente falho, pois muita gente simplesmente trava as informações lá, ou simplesmente não coloca, o que fatalmente privilegiaria alguns e prejudicaria outros, mas ela estava tão irredutível que abaixei a cabeça e aceitei.

Assim, depois de inúmeros cortes de irlandeses, em sua maioria estudantes e potenciais baterneiros (o que de novo soa um pouco como preconceito, mas eu diria que jovens irlandeses, que por várias vezes têm bebida como única diversão, poderiam de fato "causar" mais do que estávamos dispostos a arriscar ver). Dos 25, restaram 6, e um acabou avisando que não poderia comparecer. Encaminhei a todos os "excluidos" mensagens de que meus housemates mudaram de idéia e só aceitariam mulheres/pessoas mais velhas/insira sua desculpa aqui.

No dia seguinte, lá estávamos nós entrevistando pessoas. Tivemos uma irlandesa que viveu no Japão por 3 anos e estudava mestrado na universidade aqui perto; um espanhol que falava português (pois morou anteriormente numa cidade próxima à Portugal); duas brasileiras, simpáticas mas bem tímidas e com um nível de inglês que ainda não permitia muita conversa; e um rapaz de Londres, super engraçado e que falava à "mil por hora" sotaque inglês e linguagem "das ruas" confesso que não foi fácil de entender, não! Fizemos perguntas gerais sobre eles, e falamos um pouco da gente e do ambiente que queríamos manter na casa, além de mostrar a casa claro e explicar sobre as regras e obrigações de cada um.

Para minha tristeza, minha housemate não gostou de ninguém! Apenas o rapaz espanhol a agradou um pouco, mas segundo ela o fato de usar a mesma língua poderia ser um impeditivo. Dessa maneira, resolvi no dia seguinte convidar o rapaz mexicano que não pôde comparecer antes, e acabei comentando sobre o quarto disponível com uma brasileira da minha sala. Apesar de a conhecer pouco, sabia do seu nível de inglês, e sempre me pareceu ser uma pessoa legal e que poderia perfeitamente se encaixar no que procurávamos.

No dia posterior, por uma questão de horário, acabamos entrevistando os dois ao mesmo tempo (o que se mostrou uma péssima idéia, mas não havia como saber antes). No fim, novamente minha housemate não se "encantou" com ninguém. Já um pouco estressado com a situação, tive uma conversa mais séria com ela, explicando sobre as vantagens de escolhermos a brasileira, mostrando tudo o que sabia sobre ela, e argumentando que por mais que conversássemos com mais gente, nunca saberíamos mais sobre elas do que eu sabia sobre a menina. Acabei convencendo ela a recebermos minha colega de classe de novo no dia seguinte, mas adivinha: logo após a entrevista, ela implicou com o fato de que a moça receberia o namorado por duas semanas e aí já dá pra imaginar o desfecho.

A partir desse momento ela ficou responsável por criar um novo anúncio e, devido à sua disponibilidade pra receber mais gente (devido a trabalho), o processo acabou se arrastando por mais uma semana.

No início da semana seguinte, recebemos mais um brasileiro tô falando que a cidade tá começando a lotar, hehe, mas o rapaz era tão tímido que apenas os outros brasileiros que o acompanhavam conversaram, e ficou aquela situação estranha. Com mais um "não", ainda precisamos de mais tempo e, após inúmeras dispensas de todos os tipos de pessoas pela internet e essa história rendendo bem mais do que eu esperava me pergunto porque tanta coisa que me acontece ganha contornos de intermináveis novelas, foram agendadas para o fim da segunda semana entrevistas com uma japonesa, outra brasileira e uma italiana. A essa altura, mesmo tendo alguns dias até o dia "oficial" em que deveríamos ter a nova pessoa, o landlord já arrancava seus poucos fios de cabelo ao saber de como as coisas estavam se encaminhando.

No dia e hora marcados, recebemos a japonesa (a brasileira não apareceu e nunca mais deu sinal de vida, apesar de ter implorado a entrevista com minha housemate ai, ai, ai!). A simpática moça tinha um namorado irlandês no Japão (?!) o que a conferia um interessante sotaque de quase irlandesa nativa. A conversa foi ok, e ela foi agradável a ponto de mandar uma mensagem de agradecimento após deixar a casa. No final da noite recebemos a italiana que tinha um comportamento bastante parecido com o dos nossos agora antigos colegas de casa, mas ela havia acabado de iniciar as buscas para o novo lar, e logo precisaria de um mês pra desocupar seu quarto atual.

Assim, depois de algumas semanas de entrevistas, conversas, argumentações e um bocado de dor de cabeça, acabamos chegando a um consenso sobre a japonesa, que concluiu sua mudança ontem. Resolvi também mandar mensagem para as pessoas não-selecionadas, por motivos de: faço com os outros o que espero que façam comigo.

Eu achava que entendia quando as pessoas normalmente se referem ao intercâmbio como uma maneira de aprender a se relacionar ainda mais com os outros, mas agora vejo que esse jogo de cintura é necessário com mais frequência do que eu pensava. Saber expressar sua opinião ao mesmo tempo em que respeita a dos outros, ainda mais quando essas pessoas tem bagagens culturais e modos de viver e ver o mundo diferentes do seu é algo que precisei de fato lidar. Mas assim é a vida, nada mais do que um constante aprendizado, e ainda mais quando se trata do "bicho gente", não é? Só espero que nossa decisão tenha sido acertada, e que nossa casa continue no clima de "home sweet home"!

terça-feira, 13 de outubro de 2015

5 meses!


No último mês, principalmente por conta da viagem, acabei não fazendo o post-balanço do mês. Vou tentar então, resumir tudo o que aconteceu e que eu lembro durante todo esse período. Here we go:

- Desde que voltei da viagem e que o período de alta temporada na escola, quando havia aluno pra todo canto, acabou, resolvi também voltar ao nível avançado. Nem precisei fazer muita coisa, já que como havia passado no teste quando estive por uma semana lá, não seria necessário passar pelo mesmo processo. Basicamente pedi pra me colocarem lá de volta e pronto. Desde então - isso tem por volta de um mês - tenho gostado bastante (o que mostra que tive mesmo uma triste coincidência de uma professora e alunos "super avançados" quando estive lá). O estilo de aula, mesmo entre diferentes professores, é sempre focar mais na evolução do vocabulário do que necessariamente em gramática (o que eu particularmente prefiro, nessa altura do campeonato). Nas últimas semanas tivemos algumas mudanças, como um professor inglês sim, da Inglaterra mesmo e um aumento de número de brasileiros na minha turma, de um (eu, dah!) pra quatro. Normalmente não há nenhum "problema" nesse sentido, principalmente por estamos no nível mais alto na escola e por consequência num estado em que deveríamos todos nos comunicar em inglês, mas às vezes existem algumas conversas desnecessárias em português. Hashtag preguiça.
Vale citar que, não sei se devido à recente "quase" alteração nas regras de intercâmbio na Irlanda, mas percebi um aumento considerável de brasileiros na escola e nas ruas em geral, mas ainda distante da realidade de Dublin creio eu (estive de passagem em uma escola lá e vi 99% das pessoas serem brasileiras. Sim, a gente ouve falar, mas confesso que me assustei ao presenciar isso).

- Tenho ainda um pouco mais de um mês de aula, o que me incomoda um pouco pois caso não arrume emprego (assunto do próximo tópico), precisarei mesmo encontrar algo pra fazer. Candidatei a uma vaga part-time pela primeira vez aqui (loja de coisas "tech"), mas se nada acontecer, vou definitivamente arrumar pelo menos um trabalho voluntário.

- Com relação a trabalho full-time, já tive quase todas as experiências possíveis: recebi inúmeros "não foi dessa vez" de empresas as quais me candidatei para alguma vaga; já fiz várias entrevistas por telefone, especialmente de agências de recrutamento (extremamente comuns aqui) que prometem entrar em contato quando tiverem algo disponível para o meu perfil de não portador de passaporte europeu, e as que de fato retornam são raras. Hoje vejo que a questão de não ter o passaporte ser meu principal empecilho aqui. Entretanto até entrevista presencial em Dublin eu fiz no último mês. Era pra uma multinacional enorme, mas no final descobri duas coisas: o tipo de trabalho pra vaga que ofertaram - Business Analyst - não tinha ligação nenhuma com o que eu tenho experiência. E pra cereja do bolo, apesar de eu ter informado quando me cadastrei que não tinha o visto de trabalho, aparentemente eles não checaram isso, e no meio da entrevista descobrimos que esse ponto não estava claro (e a empresa não oferece esse tipo de "suporte" que eu precisaria, conforme expliquei aqui).
Olhando para o retrospecto, estou procurando emprego aqui há mais ou menos 3 meses, e pra ser sincero, achei que seria bem mais fácil. A combinação de não possuir o visto de trabalho com a falta de uma enorme experiência na área em que quero focar (apesar de ter alguma) acaba empacando a coisa, e me leva a uma dicotomia. Se não encontrar nenhuma oportunidade aqui, preciso voltar pro Brasil antes do final de janeiro. Vínculos familiares a parte, não sinto hoje a menor vontade de voltar pro país e pro tipo de vida que vivia antes. Daí fica aquela coisa aberta sobre o futuro: se arrumo algo aqui, não faço ideia de como poderia ser essa "nova vida" num outro país (a realidade de "trabalhador" é fatalmente diferente da minha hoje, mas a principio estou disposto a pagar pra ver); senão, preciso voltar e também não sei direito como vai ser. Considerar um retorno para o Brasil hoje seria pra encontrar um emprego que me permitisse trabalhar viajando pelo país e/ou principalmente pelo mundo afora, ou na pior das hipóteses, caso isso não aconteça, consigo me imaginar no máximo vivendo em outro estado. Sempre tive a sensação de que minha cidade é pequena demais pra mim, e agora só consigo ter certeza super estranho o morador de Galway falar sobre não gostar de morar em cidade pequena, rs.

- Ainda na questão profissional, dois dos meus objetivos a serem realizados quando planejei meu intercâmbio estão em execução. O primeiro, aliás, era obter uma certificação a respeito de uma metodologia que estudei e me apaixonei na minha pós. Basicamente precisei reler um livro enorme e fazer a prova nada fácil pela internet. Não sei qual o peso dessa certificação no mercado (a metodologia ainda não é tão difundida) mas acredito tanto nela como solucionadora de vários problemas que presenciei ao longo da minha experiência que precisava de algo que comprove meu interesse, nem que fosse só pra mim. O outro ponto é: estou escrevendo esse post num ônibus, indo pra Dublin! O bendito "curso na área" que tanto citei ao definir o destino do meu intercâmbio finalmente irá começar. Acabei decidindo pegar o de melhor custo-beneficio leia-se mais barato, pois o euro está nas alturas, mas a escola tem uma boa reputação. Por ser uma vez na semana durante os próximos 4 meses, acabei preferindo continuar morando em Galway. Assim, "viajar" pra Dublin às segundas-feiras será minha nova distração o que aliás significa mais tempo dentro do ônibus do que na sala, mas ainda acho que vale a pena.

- Meus dias aqui ainda tem mais ou menos a mesma estrutura: escola pela manhã e ficar com amigos durante a tarde e noite. Por mais "à toa" que isso possa parecer tá bom, às vezes é sempre conseguimos arrumar algo pra nos ocupar e entreter, seja indo ao cinema, cozinhando, ou simplesmente batendo-papo horas a fio. Não costumo fazer nada especial no fim de semana, e sábado é o dia "de caverna", ou seja, sair da cama só pra comer, e por séries/filmes/youtube/blogs em dia. Pra quem trabalhou desde os 16 anos (e estudou até hoje) sem parar, confesso que me dou ao luxo de viver assim por um tempo, hehe.

- Em contrapartida, tenho andado ocupado nas últimas semanas por conta de um projeto pessoal que ironicamente me fez voltar pra área técnica de TI. Ainda não posso dar mais detalhes, mas em breve tudo será esclarecido.

- Continuo com um relacionamento bem legal com meus housemates. Se num acaso encontramos algum assunto que nos interessa, enveredamos nele por horas conversando. Não sei se já citei aqui, mas temos um "quadro negro" que compramos, e onde escrevemos palavras que aprendemos no dia a dia. O legal é que acabo ajudando eles em dúvidas que eles têm, e meu apelido por aqui já é teacher quem me dera. O problema é que o casal de italianos está de mudança, e isso acabou trazendo uma preocupação, que será o tema do próximo post.

À caminho de um semestre na Irlanda!

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Pé na estrada: Itália (Parte 3 - Roma)


Concluindo a história que comecei a contar aqui e aqui. Esse post resume 3 longos dias em Roma, e fatalmente será mais um da série: Lucas, como você consegue escrever tanto?? Enfim, aperte os cintos, e vem comigo!


Após deixarmos Veneza, foram novamente mais ou menos 3 horas de trem até Roma. Compramos passagens que nos deixariam numa estação relativamente longe da acomodação não me perguntem porque, e como a parada final do trem ficaria mais próximo de lá, demos uma de "armless John", e esperamos mais 3 minutos pra descer na Termini Station, maior estação de Roma, onde se encontram trens, metrôs e ônibus.

Tendo de encontrar novamente as coordenadas corretas pra acomodação pelo 3G já que Wifi liberado de novo não foi possível, precisamos andar por volta de quinze minutos até o local. Comecei a ter a sensação de "fobia" de cidade grande de novo, pois meu primeiro impacto ao sair da estação foi horrível. Achei a região muito feia (bastante parecida com a rodoviária de BH, e quem conhece sabe o quanto é pavoroso, digno de cenário de Walking Dead pra cima), mas posteriormente percebi que era mais pelo fato de onde estávamos localizados, e não uma característica da cidade como um todo.

Chegamos próximos de onde o mapa localizava o B&B, mas não conseguíamos encontrar direito. Havia basicamente uma porta que dava pra uns prédios isolados da rua que mais pareciam um conjunto de sobradinhos. Aliás essa cena me lembrou uma novela "italiana" que passou na Globo há muito tempo atrás, e esse ponto merece um parêntese, ou melhor, um parágrafo.

Pode parecer muito fútil essa observação, mas por todo o período em que estive na Itália, pude perceber que aprendi um bocado assistindo novelas que retratavam parte da história Brasil/Itália. Fosse com relação a língua (sério, percebi que sabia muito mais palavras e expressões do que imaginava, e muito veio do que assisti na época), ou alguns elementos culturais, tenho que tirar o chapéu para como as coisas foram representadas lá, e dar a cara pra bater caso se levante o argumento de que novela é cultura inútil, rs.

Voltando, depois de um tempinho tentando achar o local, decidimos simplesmente subir as escadas de um dos prédios e, ao chegarmos no segundo andar, deparamos com duas portas. A primeira, fechada, e a segunda, aberta e com senhores aparentemente fazendo uma mudança, pois estavam carregando móveis. Após batermos na porta por algum tempo e sem obter resposta, a dona da casa em mudança (num inglês bem básico) perguntou se queríamos ir para o hostel, e após nossa resposta, se prontificou a ligar para a dona do local. Depois de uns 5 minutos, eis que surge a responsável pelo B&B (ou seja, nem adiantava mesmo ficar batendo lá, e nem sei o que teria acontecido se a tal vizinha não estivesse "na hora certa no lugar certo"). 

A senhora, enquanto pegava nossos dados pra fazer o checkin, foi solicitada por um casal que estava "na parte de dentro" no momento para pagarem por mais uma noite no local. O problema: eles pediram em inglês, e a moça disse que não falava uma palavra da língua! Logo, acionando meu espírito de bom moço, lá fui eu me aventurar no "ítalo-português" novamente. Claro que saiu uma m*, afinal ter que traduzir inglês-português, português-italiano (com meu vocabulário que tende a zero) não foi fácil, mas no final todo mundo se entendeu. 

Na sequência, a moça resolveu me explicar as "regras" do local, pois eu era brasiliano e a entenderia será?. Em termos gerais o lugar era uma casa/sobradinho, e apesar de não ter nenhum luxo novamente (justificando o custo), não era completamente um muquifo também. Entretanto tivemos dois problemas: acabei esquecendo de perguntar sobre como funcionava a questão do café da manhã (oferecido na descrição do B&B e um dos motivos pelos quais escolhemos esse), e durante os 3 dias em que permanecemos lá, o bendito simplesmente não apareceu! Outro problema, relacionado ao primeiro, foi que, tomando de exemplo a situação da chegada, não encontramos a senhora nunca mais! Mesmo no dia do checkout (que esperávamos contar com a boa vontade dela para manter nossas malas lá até a hora de ir para o aeroporto), a moça tomou chá de sumiço, e simplesmente deixamos as chaves no quarto e fomos embora! O barato saiu caro, e não recomendo esse B&B, que aliás já possuía comentários negativos sobre esses pontos no site em que reservamos, mas que resolvi dar uma chance - que não valeu a pena.

Após ajeitarmos as coisas, quando já eram mais de 14 horas, resolvemos ir almoçar. Mais uma vez, o amigo coreano resolveu indicar um restaurante citado em outro blog do seu país, dizendo haver refeições super em conta e relativamente perto dali. Como não tínhamos nenhuma outra referência desse tipo, acabamos indo pro local, bastante perto da Termini. Chegando lá, um doce pra quem adivinhar o que aconteceu: F-E-C-H-A-D-O! Começo a ter a impressão de que dicas coreanas existem para não serem seguidas!!! Procuramos outro restaurante próximo, e por um preço apenas alguns euros mais caro do que o previsto no restaurante-fantasma, almoçamos o chamado cardápio turístico, que incluía entrada, prato principal, sobremesa (fruta) e bebida (água). Better than nothing.

Depois, munidos de mapas (que ganhamos no B&B, ponto positivo!), começamos a cogitar lugares pra ir, mas já havíamos agendado um Free Walking Tour que começaria dali a não muito tempo, e no final resolvemos ir caminhando pra lá sem muita pressa. Durante essa caminhada percebi o quanto Roma é louca: andando pela cidade você pode a qualquer momento cruzar com monumentos de longos anos de história, ao mesmo tempo em que do lado há um outdoor gigante da Calvin Klein ou alguma marca do tipo, enquanto um trânsito muitas vezes caótico está misturado no meio disso tudo! É um fato interessante, mas particularmente esquisito pra mim. 

Nos direcionamos para um lugar conhecido como Spanich Steps e lá nos encontramos com um guia muito simpático, falando inglês num sotaque italiano carregadíssimo, e partimos para duas horas de caminhada e muita informação ao redor da cidade. Visitamos diversas e belas igrejas e vários monumentos cheios de história. Vale destacar também uma sinfonia de violinos em frente ao Panteão tocando "Ai se eu te pego" (??!!), e um senhor "encantador" oferecendo rosas pra minha amiga perto de um ponto turístico e depois quase a obrigando a pagar, quando teve que devolver a flor, tsc, tsc. O ponto final do programa era na famosa Fontana di Trevi, mas Murphy esteve presente mais uma vez, e ao chegarmos lá ficamos sabendo que ela estava em reforma e inativa #Chateado²³¹³²³²¹²³¹¹²¹¹².

Após provarmos o primeiro gelato na cidade, resolvemos dar uma volta descompromissada. O maior problema das visitas turísticas em Roma, já alertado pelo nosso amigo italiano, é que ela é uma cidade bem grande, e boa parte dos monumentos estão espalhados por diversos cantos cidade afora. Assim, mesmo com um cronograma mais organizado dessa vez, já sabíamos que não dava pra ver tudo, e mesmo nessa "caminhada ao redor" acabamos visitando um lugar super interessante: o Fórum Troiano. Ele foi o último fórum construído na Roma Antiga e, apesar de não dispormos de muita informação sobre o local no momento, foi bem legal desbravá-lo podendo observar tamanha carga histórica no início daquela noite.

Após uma boa caminhada ao redor ainda sem muita direção, acabamos chegando no protagonista da cidade: Coliseu. Nosso planejamento era de visitar a parte interna dele apenas dali a dois dias, mas a estrutura imponente do monumento contido nas listas de sete maravilhas do mundo medieval e moderno (ainda mais impressionante com a visão noturna) acabou nos convidando para uma visita rápida. Ao redor havia basicamente muitos turistas, e vendedores de "pau de selfie", além de pintores dessas placas que retratam imagens dos locais usando tinta spray (e particularmente lá, acompanhados cada um com um aparelho de som mais alto que o outro). Depois de um tempinho, caminhamos pra casa, e bastante famintos decidimos comprar algo pra comer num boteco restaurante simples próximo à acomodação. Meu amigo foi de espaguete e eu de lasanha. Fomos dormir relativamente cedo, pois o dia seguinte prometia.

Acordamos bem cedo no segundo dia, pois a programação era desafiadora: fazer o percurso do Vaticano, consistido de: Museus do Vaticano, e praça e Basílica de São Pedro. Detalhe: esse trajeto é normalmente feito em 2 dias, mas faríamos em um. O meu problema é que já acordei tendo "um dia de rei", provavelmente por conta da bendita lasanha da espelunca do lugar que comi no dia anterior. A situação estava bem complicada, mas como tínhamos programação pro dia todo, resolvi arriscar. Comendo apenas algumas frutas pois tô esperando o café da manhã até hoje!, pegamos o metrô com direção à cidade-estado.

Após sairmos da estação, basicamente seguimos a "manada", e após alguns minutos estávamos rumo à Praça de São Pedro. O problema é que, como já sabíamos, haveria uma "reunião" com o Papa no dia, e a visitação ao local só estaria disponível até as 9hs, e aberta novamente às 13hs. Assim, nosso plano era primeiramente visitar os Museus do Vaticano, reservados já há semanas antes da viagem. No caminho da Praça para os Museus (menos de 10 minutos), fomos abordados diversas vezes por senhores, muito bem vestidos e algumas vezes usando crachás, que se diziam membros da organização turística oficial, e que ofereciam um "upgrade" nos nossos tickets dos Museus para passarmos por uma ligação entre eles e a Basílica, supostamente para não enfrentar as normalmente quilométricas filas existentes para entrar no maior edifício religioso do Catolicismo. O problema é que pra mim e meu faro brasileiro de charlatões, esses caras eram certamente farsantes, que tentavam ganhar dinheiro às custas da desinformação das pessoas. Meus amigos quase se deixaram enganar, mas os convenci a ignorar os sujeitos.

Dentro dos Museus, resolvemos também alugar o guia de áudio, pois durante toda a viagem sentimos que não absorvemos tudo dos lugares que visitamos por não ter informações a respeito no momento. Como lá só havia narrativa em português de Portugal, acabei pegando a versão em inglês mesmo, mas fiquei com preguiça de ouvir tudo sobre tudo (é muita coisa, e às vezes são minutos de descrição) e não achei que valeu a pena.

Os Museus são enormes, e uma vez que o próprio nome no plural diz, são inúmeras galerias com obras e monumentos de diferentes etapas da civilização. Seguindo uma sequência mais ou menos estruturada fisicamente, é possível visitar museus de história antiga (sobre Egito e Grécia antiga, onde se observam múmias, sarcófagos, etc), uma sequência enorme de monumentos de faces de pessoas importantes também por volta dessa época; um sem-fim de estátuas gregas e romanas, de inúmeros tamanhos e materiais diferentes; várias galerias com pinturas do chão ao teto, de uma beleza ímpar, além de outras enormes com tapetes antigos de mesma magnitude (nesses locais tudo já é referente a períodos bíblicos, especialmente à vida de Jesus). Já mais ao final, estão os aposentos de Rafael, que possuem simplesmente as pinturas mais lindas que já vi na minha vida! Obviamente, não tenho nenhum conhecimento artístico ou técnico pra julgar essas coisas, mas é absurdo o quanto as pinturas são bonitas, bem acabadas e com contrastes indescritíveis, e tudo isso feito na parede. NA PAREDE! Além disso, após uma sequência de obras já retratando arte contemporânea, chegamos na cereja do bolo: a Capela Sistina. O local, pequeno para o que eu imaginava (mas no final das contas, o conceito de "capela" não é algo grande, né?), possui pinturas que são impossíveis de descrever, sendo ainda mais belas dos que as feitas por Rafael. Lá dentro é proibido tirar fotos, e existem guardas apenas pra pedir silêncio e gritar "no photos, no photos!", apesar de não ter visto ninguém confiscar nada.

Aposentos do Rafael: tem como não achar isso lindo?

Gastamos mais de 4 horas nesse percurso todo, e em boa parte dele precisei parar e visitar os banheiros pelos motivos já imaginados maldita lasanha!. No fim já estava me sentindo fraco e, ainda com medo de passar mal pelo mínimo que comesse, acabei almoçando apenas salada quem me conhece sabe que pra isso acontecer a coisa tem que estar feia mesmo!. Já sem saber como meu corpo reagiria, resolvi tentar só dar uma passada na Praça de São Pedro, mas chegamos lá vimos que a fila para a entrada na Basílica, (que já relatos dizendo que ela pode ser longa a ponto de dar volta nos muros do Vaticano), ocupava menos da metade da Praça, e acabamos nos decidindo por tentar arriscar. Gastamos menos de meia hora na fila, e após chegar no início da Basílica, vimos a entrada para os "telhados", ou melhor dizendo aqui, para a Cúpula. Pagamos e valor e, mesmo em dúvida se fazia sentido ir pra cima primeiro antes de visitar o interior, iniciamos a jornada.

Já havia lido que o percurso não era simples e que haviam mais de 500 degraus, mas gente, o negócio parece não ter fim, e paga qualquer promessa! O espaço onde estão as escadas é estreitíssimo, e existem avisos para pessoas com problemas no coração ou claustrofóbicas optarem pela subida de elevador (que é um pouco mais cara, o que explica o porquê de eu ter ido de escada, hehe). Existiram duas paradas: uma onde existe uma saída para o exterior da Cúpula mesmo antes de chegar ao topo, e uma com uma visão da parte de dentro da Basílica. O interessante é que uma espécie de missa começou a ser celebrada no momento em que observávamos tudo há vários metros de altura, numa visão geral de tudo. Após mais subida e minha pressão em sentido oposto, chegamos ao topo. É uma visão perfeita de vários pontos da cidade, além de se poder observar toda a imensidão da Praça, que é enorme. A visita à Cúpula é tida como um must em Roma, e eu não poderia concordar mais.

Depois do looooongo período pra descer todas as escadas, chegamos na entrada da Basílica. Meu Deus, como pode existir algo como aquilo? Ao contrário da Catedral de Milão, onde tive a impressão de que o espaço interno não condizia com a visão externa, na Basílica de São Pedro tive a impressão de estar dentro de um local sem fim, tanto horizontal quanto verticalmente. O lugar é enorme, com esculturas, estátuas, vitrais e tudo mais enormes, lindos, indescritíveis. Como já mencionei antes, mesmo não seguindo a religião católica (e historicamente desaprovando MUITO do que ela fez e faz parte), o contexto histórico e a beleza de tudo que está contido naquele lugar é de deixar qualquer um de boca aberta. Encerramos o dia comendo alguma coisa novamente perto da acomodação, mas dessa vez eu e apenas eu (?!) decidi comer em outro lugar.

No dia seguinte, último da nossa viagem de 9 dias, o plano era visitar o "complexo" do Coliseu, composto pelo próprio, além do Palatino e do Fórum Romano. O que não esperávamos era que algo que já me acometeu algumas vezes aqui em Galway fosse acontecer lá. Explico: tenho algum tipo de problema com bebida alcoólica, o qual sinceramente não sei dizer direito o que é, e que simplesmente deixa o meu pé inchado e com dores terríveis nas articulações dos dedos com alguma frequência quando bebo. Tive isso algumas vezes no Brasil (o que complica o ato de se apurar, pois não tem uma ligação sempre direta com a vez em que bebo, e que o inchaço aparece), mas aqui na Irlanda a relação foi quase de um pra um. Tive que tomar anti-inflamatório por várias vezes, e sempre dói muito! Quem me conhece sabe que bebo muito pouco, mas depois das últimas vezes desse problema aqui resolvi simplesmente não beber mais. A questão é que no nosso primeiro dia em Veneza, inocentemente bebi uma taça de vinho branco (e nem senti nada no dia seguinte, momento em que normalmente essa dor ataca). Não sei se por conta do tanto que andamos no dia anterior (ou no conjunto de caminhadas da viagem inteira), ou por sabe-se lá qual motivo, essa dor veio novamente. O pior é que, com medo de ter meus remédios "confiscados" no aeroporto, só levei Paracetamol, o que até tentei, mas não adiantou de nada.

Fizemos o "checkout" no B&B e nos direcionamos à estação Termini, onde deixaríamos nossas bagagens pra poder ficarmos livres e explorar o Coliseu direito. Fui-me arrastando dando graças à Deus por ter levado sandálias, pois tênis naquele dia seria impossível, e chegamos lá gastando o dobro do tempo previsto. Depois de uma burocracia enorme para deixarmos as malas e com o pé no dobro do tamanho, resolvi finalmente tentar comprar o mesmo remédio que trouxe do Brasil numa farmácia dentro da estação. Depois de ter descobrido o nome em inglês, me direcionei pra drogaria mais próxima, e fui informado de que precisaria de prescrição médica para comprá-lo. Já fazendo cara de choro e insistindo com a farmacêutica que nem se mostrou assim tão comovida, ela me disse que poderia vender um com eficácia mais leve mas que poderia me ajudar. Tomei o bendito remédio e nos direcionamos pro Coliseu assim mesmo, ainda que gastando uma graninha a mais no metrô, afinal era meu último dia e Deus sabe quando teria a oportunidade de visitar o Coliseu de novo nessa vida.

Chegando lá, mesmo que no "passo do elefantinho", adentramos o Coliseu. Estávamos cobertos pelo sol do meio-dia ou seja, calor infernal, mas deu pra andar de forma relativamente tranquila. Fiquei um pouco decepcionado, porque achei ele beeeem menor do que eu esperava, e a visão externa dá uma ideia bem diferente do que é por dentro. Ou eu não entendo essa parte da História direito, ou era simplesmente impossível haver a arena dos gladiadores com o espaço existente na parte central do famoso anfiteatro.

Sem demorar muito lá, e com o remédio já fazendo algum efeito thanks, God!, fomos em direção ao Palatino. Ao chegar, percebemos que na parte inicial haviam pouquíssimas ruínas, e o local basicamente parecia um parque, com uma área verde considerável. Andamos por um bom tempo, pois de lá era possível ver boa parte da área conhecida como Roma Antiga.

Nos direcionamos então para o Fórum Romano, um conjunto de estruturas como templos e arcos, pertencentes àquela época da civilização. Sentimos falta novamente de alguma referência pra entender "o que era o quê" e acho que esse foi um dos aprendizados como mochileiros de primeira viagem novatos para as próximas viagens. Apesar de andarmos um bocado por meio das ruínas (que mesmo nesse estado ainda possuem grande magnitude), precisamos correr um pouco e finalizar nossa visita ao local, pois nosso amigo coreano ainda iria para Florença o que não coube no meu orçamento.

Voltamos para a estação pra pegar as malas e despacharmos o rapaz, e depois de matar o tempo visitando a Praça da República e a Basílica de Santa Maria dos Anjos e Martírios, foi hora de pegar nosso ônibus (que estava uma hora atrasado e morremos de medo de perder o voo) e dizer adeus pra Itália.

Essa viagem foi de longe a mais completa da minha vida. Visitar tantos lugares bonitos, com uma dimensão histórica enorme e na companhia de amigos foi uma experiência maravilhosa e inesquecível. Espero que ainda tenha oportunidade de viajar pela Europa mais vezes ainda que com orçamento super-limitado. Aliás, já temos planos para encontrar o bom velhinho fora da ilha dos leprechauns. Já estou sonhando com queijos e chocolates maravilhosos, hehehe!