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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Três meses de Irlanda!


Como o post sobre três meses de Irlanda tá atrasadíssimo (11 dias pra ser mais exato), e os últimos posts foram enoooormes, resolvi criar um resumão mais compacto das minhas experiências e do dia a dia aqui, basicamente com o que eu sempre (ou quase sempre) faço, e nunca (ou quase nunca) faço, obviamente não respondendo uma coisa em um e o oposto no outro! Chega de enrolação e vamos aos fatos:

Em três meses de Irlanda, eu nunca ou quase nunca...

- ...penso na chuva e/ou frio na hora de sair: Especialmente em Galway, chove praticamente todo o dia desde que cheguei aqui, em maior ou menor intensidade. Períodos que vão de alguns dias a semanas sem o sol dar as caras também não é nada incomum, e quando ele aparece, normalmente a ventania também está no combo. Com isso, você tem duas opções: (1) ficar em casa e xingar muito no Twitter, ou (2) encarar o frio e/ou a chuva e aproveitar o que tiver pra fazer. Seja dar uma voltinha, ir na casa de um amigo, em uma loja, etc., o negócio é estufar o peito e simplesmente ir;

- ...como 100% direito: Apesar de ter feito um esforço maior esse mês, ainda sinto que não me alimento corretamente. Como já citei antes, tento pelo menos no almoço comer direito, ou seja, pelo menos um legume ou verdura tem que aparecer. Novamente, juntando as diferenças do que se tem disponível aqui em comparação com o Brasil, bem como o espaço mínimo que possuo na geladeira da casa (é pouco maior do que um frigobar de hotel e precisa ser dividida pra 5 pessoas), a coisa fica bem complicada;

- ...assisto TV: Isso é algo que me toquei esses dias, pois tirando as duas semanas iniciais, quando ainda estava na acomodação da escola e assistia TV por uns 20 minutos enquanto almoçava, eu simplesmente nunca sequer liguei a televisão na minha casa atual. Não que eu fosse um espectador compulsivo no Brasil, mas vez por outra eu assistia algo aqui e ali. De qualquer forma, Youtube, torrent e Netflix fazem um pouco parte dos meus momentos de tédio entretenimento aqui no meu notebook mesmo (inclusive assistindo algumas coisas em português. Já falei que adoro Masterchef Brasil?)

- ...falo em português: Meu contato com brasileiros aqui é pequeno e/ou esporádico, logo converso muito pouco na minha língua aqui. Há poucos dias atrás eu realmente me assustei com a minha própria voz (?!) quando troquei 2 frases em português com um colega de classe. Como converso com minha família basicamente por texto eu ODEIO ligação telefônica, as possibilidades de uso da língua acaba ficando restringido. Mas no uso de internet inclusive aqui no blog e na comunicação com eles e amigos em geral (leitura e escrita), obviamente ainda uso português;

 - ...ouço música: Isso era algo que sempre fiz a vida toda praticamente todo dia, e que também me ajudou muito no aprendizado do inglês (assunto pra um post), mas aqui, devido a rotina e a não realizar longos deslocamentos sozinho, que era quando normalmente aproveitava pra ouvir e cantar como doido, isso praticamente não acontece, e confesso que sinto falta;

- ...fiquei doente e precisei de remédios: Tirando relaxantes musculares que precisei quando me aventurei como atleta de fim de semana, e uma dorzinha aqui e outra acolá, praticamente não tomei remédios aqui, nem tampouco adoeci. No entanto esse tópico é a típica lei de Gaga Murphy, pois pensei nele quando tive a ideia do post, mas tô escrevendo estando há 3 dias gripado e tendo quase finalizado uma caixa de Resfenol, sem muitos resultados. Parti pro antigripal irlandês agora. Wish me luck!;

- ...viajei: Como já disse antes, nesse meio tempo aqui só estive nos Cliffs of Moher e em Dublin (que nem podem ser considerados assim como viagem), sempre empurrando com a barriga e esperando pela "melhor oportunidade". No entanto, daqui a menos de 2 semanas faço com alguns amigos a primeira viagem fora da Irlanda, e acho que vai ser bem legal.


Em três meses de Irlanda, eu sempre ou quase sempre...

- ...estou com meus amigos: Como já mencionado, minha rotina ainda está bastante condicionada ao "mundo" da escola, e talvez por isso as pessoas com quem sempre estou sejam todas de lá. Basicamente composta por mim, 3 coreanos e uma japonesa, nossa turma está sempre junta, procurando algo pra fazer e fazendo algo juntos, seja manhã (quando não tem aula), tarde ou noite, dia útil, fim de semana ou feriado. São pessoas bem parecidas comigo e, apesar das diferenças culturais, gostamos sempre de estar juntos, brincando, falando bobagem e batendo papo. Já fomos inclusive questionados por um colega japonês se, devido à quantidade de tempo que passamos juntos, não enjoamos uns dos outros. Bom, pelo menos por enquanto, não, hahaha!;

- ...uso apps como o Google Translate ou Oxford Dictionary: nas nossas conversas, ou mesmo na sala de aula ou em bate-papos mentais, sempre dou (aliás, damos) uma checada em alguma palavra que não sabemos o significado, ou que sabemos apenas na nossa língua materna. Confesso que uso com bastante frequência e ajuda um bocado quando o bendito do vocabulário especifico escapa;

- ...tenho procurado emprego (full-time, part-time, voluntário): depois da saga narrada no último post, já é de se imaginar que isso tem ocorrido. E não tô me limitando muito não! Mesmo vagas part-time (praticamente impossível, mas vai que...) e/ou mais trabalho voluntário eu tenho considerado, apesar de, conforme dito antes, pretender focar mais em emprego apenas na volta da viagem;

- ...vou ao supermercado: devido às proporções nada amigáveis da minha geladeira, preciso ir ao mercado com alguma frequência. Na verdade, seja pra comprar algum ingrediente específico para um almoço em grupo, algo que faltou de última hora, ou apenas pra fazer companhia a alguém, acabo indo quase todo dia!! Como já citei, aqui existem algumas opções de supermercado (e tem o post de utilidade pública da Bia sobre o assunto), mas acabo quase sempre indo ao Tesco pois, mesmo não sendo o mais barato também não é o mais caro, e é o que mais tem opções. Como sou chato enjôo das coisas facilmente, preciso variar e lá acaba ajudando nisso;

- ...como doce (especialmente chocolate): Esse é um hábito muito estranho que adquiri aqui. No Brasil nunca fui muito fã de chocolate, mas podendo comprar Kinder Bueno recheado com pedaços do paraíso e chocolate branco relativamente barato aqui, já virou rotina a "cota de gordices" de toda compra;

- ...ouço espanhol nas ruas: Já não sei se é só pela "alta estação" na cidade, mas é fato que se ouve muito espanhol nas ruas aqui. Pra quem tá pensando em vir pra cá, acredite: pra bater a proporção deles aqui ainda falta um bocado de brasileiros, hehe.

E que venha mais um mês!!!

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Buscando novos rumos (Parte 2: A caçada por emprego)


Continuando o relato dos meus últimos grandes acontecimentos em terras irlandesas que começou aqui. Esse também é um longo post de uma jornada, mas acho que vale a pena acompanhar. :)

Foco em trabalho também nunca foi uma prioridade no meu intercâmbio. Não sou nenhum ryco afortunado, mas como também citei nos posts iniciais, me programei pra passar um tempo fora sem precisar me preocupar com esse ponto pois nesse caso sou muito metódico, e do contrário eu nem viria. No entanto, sempre considerei que trabalhar fosse uma opção válida e, uma vez que o visto aqui permite o trabalho por 20 horas semanais (além dos períodos full-time), fosse pra conseguir mais grana, ter mais possibilidade de contato com os locais, ou simplesmente ter os dias ocupados, por que não tentar, né?

Assim que meu processo do visto ficou pronto o que levou mais de um mês, porque eu também não tive lá muita pressa, já estavam abertas as inscrições pro trabalho voluntário que realizei aqui. Dessa forma, me inscrevi lá, mas ainda assim, num novo dia de ócio pela internet, resolvi fazer duas coisas que já havia pensado há um tempo: atualizar meu perfil no LinkedIn e meu currículo, ambos em inglês.

Desde o primeiro momento resolvi tentar acreditar que fosse possível encontrar um emprego part-time na minha área. E decidi fazer isso também por dois motivos: (1) já tinha lido casos de pessoas com o mesmo perfil que o meu que conseguiram emprego dessa forma (ainda que tivesse sido apenas em Dublin, e ainda que em alguns casos o trabalho fosse sem salário), e (2) não tenho nenhuma experiência e a menor aptidão para os empregos normalmente ofertados como part-time aqui, como garçom, cozinheiro, ajudante de cozinha ou mesmo segurando placas nas ruas. Deixando claro que não tenho o menor preconceito com esse tipo de emprego, que aliás é uma mentalidade muito mais brasileira, já que o que muitas pessoas chamam de "subemprego", aqui sequer tem esse nome. A justificativa é que, unindo o fato de não ter urgência para trabalhar à minha COMPLETA falta de jeito para trabalhos manuais e braçais, preferi não considerá-los.

Depois de muitas horas e horas de ajustes no meu CV porque pra ficar minimamente aceitável esse tipo de coisa dá um trabalho danado, ainda mais em inglês, a obra estava criada. O próximo passo do meu plano era tentar me candidatar para vagas de emprego direto com as empresas, e tentar de alguma maneira uma vaga de meio período.

Abrindo um parêntese: apesar de ter citado no início do texto, não sei se todo mundo que acompanha o blog conhece o LinkedIn, então preferi criar essa observação aqui. O LinkedIn funciona como uma rede social profissional, onde pessoas descrevem suas experiências e conhecimentos (CV), e se conectam a outras pessoas e empresas com o intuito meramente profissional lá não rola "bom dia, faces" nem coisas do tipo "que Agosto traga tudo de bom". Também é possível disponibilizar e se candidatar a vagas de emprego, o que acaba centralizando o processo e evitando de ter que criar 300 cadastros em sites diferentes pra preencher as mesmas informações. Ele é particularmente usado pra vagas de TI, mas isso não é exclusivo. Outra curiosidade é que ele é MUITO usado pelas empresas aqui na Irlanda, muito mais do que no Brasil inclusive. Parêntese fechado.

A forma mais efetiva de encontrar vagas de TI ainda é pela internet duh!, então lá fui eu visitar alguns sites de vagas, tanto os conhecidos na Irlanda (como o jobs.ie) ou mundialmente divulgados (como o indeed), além do já citado LinkedIn. Qual foi a minha surpresa ao ver que havia UM MAR de oportunidades, especialmente cargos técnicos, por toda a Irlanda e especialmente Dublin, pelos motivos óbvios. Por mais que a minha intenção ainda no Brasil fosse de mudar um pouco minha área de atuação, a quantidade de vagas aqui e o período que não seria integral acabaram me convencendo, então resolvi dar uma chance e me candidatei a algumas.

Esse dia (ou noite) foi particularmente cansativo, pois devo ter visitado pelo menos uns 10 sites, e fuçando incontáveis vagas das últimas semanas e meses em todos eles. Por conta disso, acabei decidindo não ir à aula no dia seguinte, mas também não consegui descansar muito. Meu telefone e e-mail "pipocaram" durante todo o dia seguinte, principalmente por contato de agências de recrutamento (coisa muito comum aqui, mas que eu não sabia e não havia percebido que também cadastrei em vagas delas). Apesar de "simples" não ser a palavra que melhor define meu entendimento dos irlandeses no telefone, consegui compreender o que queriam, e a avassaladora maioria, assim como via e-mails, questionava sobre o visto de trabalho que me permitiria trabalhar full-time, e que todos sabemos que não tenho.

Ainda assim, após a sugestão de alguns recrutadores para algumas melhorias no meu currículo que foram prontamente atendidas, fui inscrito por eles para algumas vagas de emprego. E sim, eram vagas full-time! Caso se interessassem por mim, essas empresas estariam dispostas a participar do processo de "patrocínio de visto", no qual o empregado fica vinculado ao empregador por pelo menos um ano, e é tão desburocratizado que a pessoa pode mudar o visto e começar a trabalhar aqui com quase nenhuma complicação! Não precisa deixar o país, é necessário fazer o processo oficial que não costuma demorar mais que um mês, e depois disso a pessoa está registrada legalmente com um trabalho na Irlanda. Apesar de não ser muito complexo, esse é um assunto longo e um pouquinho detalhado (embora bastante simplificado pelo governo para áreas tratadas denominadas críticas, como TI), e podem ser encontradas maiores informações aqui.

Levei um choque, pois jamais tinha cogitado esse tipo de coisa na minha cabeça! Deixar de ser intercambista para ser um trabalhador regular na Irlanda, correndo o risco de tão cedo voltar pro meu país era algo definitivamente inimaginável antes. De qualquer forma resolvi tentar, e poucos dias depois recebi a grande notícia: duas empresas (uma de Galway e uma de Limerick) haviam se interessado pelo meu currículo e queriam fazer uma entrevista por telefone! No melhor estilo "quem está na chuva é pra se molhar", aceitei os convites, e passei alguns dias me preparando para as entrevistas, que possuem a fama de serem bastante difíceis, mas também fui bem orientado pelos recrutadores.

No dia da primeira entrevista eu estava bastante nervoso, e no exato horário marcado me ligaram. Eram três pessoas (se não me falhe a memória um gestor e dois membros técnicos da equipe que eu supostamente trabalharia), e sem muita cerimônia "dispararam" diversas perguntas técnicas, às quais se tornam bem mais complicadas de responder quando são feitas em inglês, e por telefone! Mesmo tendo me preparado bastante, senti que derrapei em algumas, mas consegui me explicar bem em outras. Desliguei o telefone e fiquei no aguardo do retorno.

Ainda antes do feedback da primeira, dias depois tive a entrevista da segunda empresa. Esse processo é particularmente interessante aqui na Irlanda, porque as empresas querem sempre saber o quanto você conhece sobre elas, e no caso dessa que ficava em outra cidade, até o que sabia sobre o local fui questionado (mas até isso já me foi antecipado pelo recrutador que poderia acontecer). Apesar de conseguir compreender mais os entrevistadores (dois dessa vez), ele me disse algo no início que inconscientemente acho que usei pra me auto-sabotar: "Não tem problema se você não responder tudo...". Eu me atrapalhei COMPLETAMENTE e simplesmente não conseguia responder as perguntas direito. Foi um misto de monossilabismo, pausas dramáticas e "sorries" que me deixaram até envergonhado. Conclusão: dessa empresa eu não recebi retorno nenhum até hoje! :(

Alguns dias depois recebi o retorno da primeira empresa, de Galway: haviam me selecionado para um teste técnico prático! O estranho é que quando fui explicado sobre o processo, essa etapa não foi citada, mas minha impressão é que decidiram me avaliar tecnicamente mais na prática do que na teoria. Aliás, mesmo no período em que tive a oportunidade de trabalhar "do lado de lá" (contratando), minha avaliação é que o desempenho prático em cargos técnicos conta muito mais do que apenas base teórica. Não que ela não seja importante, mas especificamente nessa área de atuação, é possível perceber a bagagem teórica mesmo através de atividades práticas.

Anyway, após alguns desencontros (o cara que iria me enviar o teste no dia marcado não mandou, e depois justificou com uns problemas pessoais na família), recebi o bendito. Foram enviados via e-mail alguns "exercícios" a serem resolvidos e enviados em 24 horas, os quais a maior parte eu conseguiria encontrar a resposta com 2 minutos de Google! Fiquei sem saber como começar, e me senti extremamente desmotivado, pois novamente discordava do modelo de avaliação da empresa! Entretanto, percebi naquele instante algo que estava sentindo desde que comecei a estudar pra primeira entrevista, e meio que simbolizava um marco na minha carreira: o conteúdo técnico de desenvolvimento de software não me despertava mais interesse mesmo! Nos dias em que estive estudando, era notável pra mim mesmo que esse tema não me traz a mesma dedicação de alguns anos atrás, mas preferi focar na ideia de que conseguindo um emprego desses eu poderia me "mostrar" na empresa, e assim conseguir alcançar os cargos de liderança/gestão que são (e eram, no Brasil) meu objetivo. Sobre esses assuntos sim, volta e meia me pego lendo e refletindo, e acredito que unindo minhas habilidades pessoais com a experiência heterogênea que possuo, poderia atuar da maneira que desejo.

Conclusão: depois de me questionar por longas horas, decidi entrar em contato com a agência e me "auto-excluir" do processo, explicando que eu estava no aguardo de uma bolsa de estudos, e que o resultado disso poderia afetar na minha decisão de optar por trabalhar naquele momento (o que não era mentira). Dessa forma, pela segunda vez na verdade foi a primeira, porque isso aconteceu antes, eu via a possibilidade de uma alteração enorme na minha vida ir embora. Mas na verdade isso trouxe duas coisas boas: primeiro, o alívio de não precisar correr o risco de me ver preso em um cargo que poderia não me fazer feliz por um ano somando isso ao frio que creio que vai se iniciar logo, eu iria pular da primeira ponte que visse na frente; e segundo foi ver, mais recentemente, que vagas técnicas não são a única opção de oportunidades em TI aqui. Cargos com atividades que unam a área técnica com a área de negócios também são possíveis e disponíveis na Irlanda (e era essa minha PRINCIPAL atuação no meu último trabalho), ainda que com uma frequência um pouco menor, e com menos empresas interessadas em patrocinar o visto, mas muito mais "factíveis" pra mim nesse momento ainda que demandem uma carga de conhecimento na língua que não tenho 100% de certeza que tenho.

Assim, fica oficialmente registrado que estou tentando virar um humilde trabalhador aqui na Irlanda atualmente. Inclusive com algumas coisas em estágio inicial de análise, mas que pretendo focar mais depois de realizar minha viagem, que será em menos de duas semanas. Não quero criar nenhuma expectativa, e minha cabeça agora só fica o desejo de que Setembro o futuro traga tudo de bom!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Buscando novos rumos (Parte 1: A bolsa de estudos)


Talvez esse post possa parecer uma saída para os problemas que levantei na última postagem, mas a verdade é que ele faz parte de um conjunto de coisas que me aconteceram há quase dois meses atrás, mas que mesmo sem um motivo exato, eu só resolvi relatar aqui agora. Como são basicamente relacionados a dois temas macro que citei no final desse post, preferi dividir esse assunto em duas partes, e essa será a primeira delas. Spoiler: Esse relato é uma verdadeira maratona, não diga que eu não avisei. Então, vamos lá.

Como já contei nos posts iniciais do blog, minha intenção principal ao pensar em intercâmbio foi mais em encontrar algo que me permitisse estudar algo na área que pretendo focar profissionalmente do que necessariamente apenas melhorar meu inglês. Apesar da espera frustrada do Ciência Sem Fronteiras na modalidade de Mestrado Profissional, sempre fiquei em estado de alerta procurando oportunidades de bolsa de estudos. Por um bom tempo considerei tentar um programa de bolsas na Inglaterra, mas o bendito exame de proficiência em inglês (o qual ainda não tenho) sempre me afastou de concretizar a ideia. 

Ainda assim, pouco tempo antes de vir pra Irlanda, encontrei um site oficial do governo, referente à educação, o qual disponibiliza várias informações sobre bolsas ao redor do país. Nesse site encontrei uma oportunidade criada em parceria com os governos da Irlanda e do Brasil, a qual ofereceria além do curso (que poderia ser graduação, mestrado, doutorado ou pós equivalente ao Lato Sensu), uma ajuda de custo para o aluno se manter por um ano, no valor de 7500 euros! Eram 15 bolsas apenas para alunos brasileiros, e o processo variava de universidade para universidade. Mesmo sem muita expectativa, encaminhei na época e-mails (foram quatro) para as que ofereciam o curso que me interessava e que faziam parte do programa. Assim como a Bia, fui severamente ignorado por quase todas, e a que me respondeu na verdade mandou um e-mail com várias informações vagas a respeito do programa. Como estava a poucos dias da minha viagem, acabei ficando naquela de "depois olho isso" e esqueci completamente.

Um pouco antes de completar dois meses aqui, num dia qualquer enquanto estava checando os grupos de Facebook aqui de Galway, vi um convite para brasileiros interessados em fazer doutorado na maior universidade da cidade (e uma das 300 melhores do mundo). Nunca tive - e não tenho - nenhum interesse em doutorado, mas ao questionar a autora do post sobre outras oportunidades, ela me encaminhou o link da página de bolsas da NUIG, onde estava listada a bendita oportunidade novamente. Dois detalhes: (1) foi essa a única universidade que havia me respondido (ainda que mal) quando questionei sobre a bolsa, e (2) era a única ainda disponível para inscrição nos cursos que começariam em Setembro (isso aconteceu no final de Junho, se não me engano). Ainda nessa página, pude entender que precisaria submeter, além de uma carta de apresentação explicando porque eu deveria ser aceito no curso, vários documentos referentes às minhas graduação e pós, como histórico e diplomas OFICIALMENTE TRADUZIDOS EM INGLÊS. O problema é que eu não tinha trazido nada disso comigo, quanto mais ter tudo isso traduzido. Mesmo tendo pouco mais de um mês sabia que seria impossível, pois por exemplo meu diploma da pós tinha ficado pronto há poucos dias atrás (e alguém no Brasil teria que ir buscá-lo pra mim). Além disso, adivinha o que também era solicitado: sim, um exame de proficiência em inglês hashtag chateado.

A possibilidade de conseguir era muito pequena, pois para essa universidade só havia UMA bolsa, a ser disputada por brasileiros de todos os níveis possíveis. Mesmo temendo não ter todos os requisitos necessários, e aproveitando que a NUIG fica a uns 15 minutos da minha casa, resolvi ir lá e tentar obter mais informações.

No escritório internacional, fui atendido por uma senhora que, apesar de me explicar um pouco mais sobre o processo, não pareceu acreditar muito que fosse possível. O que ela me sugeriu foi tentar conversar diretamente com a responsável pelo curso e tentar ver se eu conseguiria algum tipo de ajuda diretamente com ele. Acabei entendendo que o processo nesse caso se consiste basicamente em ser aceito primeiro pela coordenação do curso que eu queria, e só depois é possível tentar conseguir algum tipo de bolsa.

Chegando no prédio do curso depois de ter me perdido 30 vezes girando sem parar ao redor do campus, tentei encontrar a responsável, mas dei com a cara na porta. Tentando não perder a viagem, fui procurar alguém que pudesse me dar mais informações. Um simpático senhor me aconselhou a fazer a inscrição pelo site, encaminhando toda a documentação necessária mesmo em português, e tentar nesse meio tempo um contato com o real responsável pelo curso (a pessoa que me informaram no escritório internacional é na verdade a "secretária"). Ele também me explicou que o problema com a proficiência poderia ser "contornado" com o que eles chamam de conditional offer, ou seja, eu poderia ser aceito no curso, mas com algum tipo de observação, que no caso seria obter o tal exame assim que possível.

Resumindo um pouco essa parte: coloquei o pessoal da minha casa no Brasil feito louco pra levantar toda a documentação que eu precisava (com direito a pedir na universidade da pós os documentos da minha graduação que eu havia entregue lá, pois não daria tempo de solicitar novos); fiz a inscrição online com os documentos em português, mesmo com o site dizendo em letras garrafais que alguns deles deveriam ser enviados pelos correios; e tentei entrar em contato com o responsável pelo curso novamente, explicando TODA a minha situação, os problemas com a documentação e o nível de inglês (tentando justificar que estava estudando na escola de inglês parceira da universidade inclusive), mas descobri que ele estava de férias, e só retornaria depois de duas semanas, ou seja, teria que esperar pra ver o que iria acontecer.

Esperei mais de uma semana após o retorno do gentleman, mas como não obtive nenhuma resposta, e sendo brasileiro não desistindo nunca, resolvi voltar no prédio do curso e tirar satisfação perguntar educadamente se haviam analisado meu caso. Parecia que haviam se esquecido de mim, mas a "secretária" me recebeu e deu a boa notícia de que minha documentação estava OK de acordo com a análise do escritório internacional economizei vários reais não traduzindo os documentos, só faltando o OK do "todo-poderoso" para avaliar minha carta de apresentação e me dar o sim ou o não. 

Após algum tempo checando meu e-mail, e apenas a alguns dias do término do prazo para tentar a bolsa, tive a brilhante ideia de acessar o site onde fiz a inscrição e: TCHARAM, recebi um yes! Tinha conseguido ser aceito no curso, mas com o bendito asterisco da oferta condicional: precisaria apresentar uma prova do meu nível de inglês.

Não me dando por vencido, fui mais uma vez no escritório internacional ainda bem MESMO que essa universidade é perto da minha casa! e questionei o que poderia ser feito: antecipar o TOEIC que tenho direito na minha escola e usar ele como proficiência; alterar meu curso lá para algum que fosse aceito como preparação para a universidade; agendar um exame (TOEFL ou IELTS) mesmo sabendo do prazo curto, tanto pra me preparar quanto pra conseguir vaga disponível e correndo o risco de gastar uma grana em algo que não teria benefício imediato a não ser pra tentar essa bolsa. Estava cheio de dúvidas, e não souberam me informar nada lá. Fui encaminhado pra outro setor, e no final tive a oportunidade de conversar com a pessoa que fazia a avaliação das inscrições pra bolsa! Ela me disse pra obter inicialmente pelo menos uma declaração do meu nível na escola e enviar imediatamente a inscrição pra bolsa (que também consistia numa carta de apresentação, dizendo porque eu mereceria ser agraciado, e como agiria sendo "embaixador da universidade"). Também consegui "arrancar" a informação de que haviam por volta de dez pessoas concorrendo, o que me deu um pouquinho da sensação de estar realmente perto de conseguir.

Escrevi a carta como jamais escrevi nada antes sério, ficou muito foda, relatando toda a minha caminhada em busca de aprendizado, o quanto essa seria uma oportunidade inacreditável, e citei pontos como o trabalho voluntário na cidade, o grande incentivo do governo em patrocinar visto de trabalho na minha área, e até mesmo esse blog (pois a moça mencionou que "blogadas" seria uma das atividades do embaixador)! Depois de uma revisada rápida da minha professora e um esforço imenso em resumir tudo em "apenas" 600 palavras, enviei a carta e fiquei no aguardo.

Após um pouco mais de uma semana de agonia espera, a resposta: não fui selecionado para a bolsa. Claro que fiquei chateado, pois acabei me envolvendo num processo onde tudo parecia ser impossível desde o primeiro instante, mas realmente fui atrás e fiz o que pude fazer. Tenho MUITO a impressão de que a questão do inglês pegou, pois caso eu recebesse a bolsa ainda teria que obter o certificado, e o que aconteceria se não conseguisse? Perderia a bolsa e a vaga não seria preenchida, uma vez que o prazo pro início das aulas já estaria em cima da hora? Enfim, difícil saber. Mas o fato era que minha possibilidade de estudar algo na minha área de graça na Irlanda havia se esvaído naquele instante. O mais maluco, entretanto, é que algo também importante (ou talvez ainda mais) estava acontecendo ao mesmo tempo comigo. E esse será o relato do próximo post...

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O quanto a escola pode auxiliar no aprendizado de inglês do intercambista?


Por mais que o título desse post pareça tema de TCC ou chamada sensacionalista de um artigo no Facebook, minha intenção aqui não é a de levantar nenhuma verdade universal, mas apenas compartilhar a minha experiência e percepção, além de observações de alguns amigos na mesma situação que a minha. O que me encorajou a escrever sobre esse tema, no entanto, foi que desde o momento em que decidi fazer o intercâmbio, sempre me perguntei sobre o quanto conseguiria aprender estudando inglês todo dia durante seis meses fora do meu país.

Como contei aqui, estudei inglês num curso de extensão da área de letras na UFMG em BH por um tempinho, quando tive a primeira experiência de aprender a língua numa "sala de aula". Inicialmente tive um encorajador, porque queria muito ter a oportunidade de praticar meu speaking usando o que eu já tinha aprendido por conta própria, e ao contrário de alguns meus amigos na época, achava que fazia muito mais sentido estar num local onde eu pudesse praticar com muita gente, ao invés de ter aulas particulares (o que se provou ser exatamente o oposto no futuro). O problema naquela época era que o nível da sala era muito irregular, ou seja, tinha gente que falava melhor do que eu, e muita gente que sequer se sentia confortável pra conversar. Mais do que isso, o que mais me incomodou naquele tempo era ter que seguir um livro que abordava assuntos de maneira meio aleatória, e as aulas não tinham muita estrutura e sequência entre elas. Resumindo muito a ópera, aprendi muito pouco no período em que estudei lá.

Voltando aos últimos meses, quando comecei a estudar aqui na Irlanda, (como também já comentei aqui), minhas aulas eram bastante focadas em conversação, mas mais por conta do estilo do meu professor do que uma linha seguida pela escola em si. Apenas contextualizando, minha escola segue um modelo de usar um livro que abrange vocabulário e gramática por meio de assuntos aleatórios pois é! de segunda a quinta, e na sexta temos um teste com o que foi estudado durante a semana. Aliás acho que esse é o modelo básico de ensino nas escolas pelo país a fora, de acordo com o que li a respeito.

Como disse, muitas vezes a forma como as aulas fluem depende muito de como o professor as conduz. No meu caso, o primeiro professor acabou sendo designado pra outra turma, e tivemos uns 5 professores nesse meio tempo, entre temporários e definitivos (que acabaram sendo temporários também, mas por um período maior, rs), e que tiveram diferentes graus de "apego" ao livro, à conversação e às atividades recreativas durante as aulas.

O problema, pra mim, acabou sendo o que já deve ter ficado claro: acho que não "funciono" com esse modelo padrão de aprendizado, e a verdade é que nos últimos tempos tenho andado sem mais muita expectativa de aprender muito lá. Nem me sinto no direito de dizer que a escola é culpada por isso, como também não digo que "não aprendo nada", mas realmente acredito (e se olho pro meu retrospecto de aprendizado isso se confirma) que minha forma de aprender é outra, quando consigo absorver conteúdo de uma maneira menos despretensiosa (usando música, seriados, etc), da mesma forma em que consigo estudar gramática de uma maneira mais direta, no sentido de "isso aqui uso assim, aquilo lá uso assado". Preciso destacar um "mea culpa" entretanto: nunca, em todo esse tempo que estive aqui, parei pra estudar ou revisar o que aprendi na escola. Um pouco por desinteresse, e um pouco pelo sentimento de "amanhã tem mais" que acaba influenciando um afinco menor no estudo fora da sala.

Na época em que estudei inglês por meio de aulas particulares, senti meu aprendizado evoluindo muito, num período relativamente pequeno. Foram quase 2 anos sendo: 3 aulas de 50 minutos por semana no primeiro ano, 2 dias na semana; e 2 aulas no mesmo esquema no segundo ano, mas apenas uma vez na semana. A grande diferença nesse caso é que o professor te conhece, sabe seus pontos fracos e fortes, e vai e volta nos assuntos que ele vê necessidade de acordo com o sua percepção sobre o aluno. Juntando-se a isso a prática de conversação, a coisa deslanchou de vez! No final do curso, disse pra minha professora que comecei as aulas já tendo algumas peças do quebra-cabeça, mas foi lá que aprendi como elas realmente se encaixavam hashtagS2.

Um ponto acima de tudo me preocupa: tenho a leve sensação de ter atingido o falado "Plateau do aprendizado" (explicação rápida em português aqui, e mais completa em inglês aqui), o qual não conheço muito, mas acredito mesmo que possa ter sido meu caso. Ele basicamente diz que, após um período crescente do aprendizado, acabamos meio que entrando numa linha reta, onde não é possível mais ver muita evolução. Fica de qualquer maneira o para-casa pra pesquisar mais sobre o assunto, inclusive.

De qualquer forma, já há algum tempo tenho conversado com amigos aqui sobre assuntos relacionados à melhora do inglês, e vira e mexe estamos debatendo sobre como melhorar ainda mais nosso nível com o que temos disponível, sendo todos pessoas na faixa dos 21-25 anos com bom nível da língua, ou ainda Upper intermetiate, de acordo com a escola. Tópicos do tipo "como ter mais contato com a cultura irlandesa e com os nativos" sempre surgem (e sempre paramos na pergunta "como fazer?". Sério, isso é bem mais difícil de responder do que parece), além de pensar em fazer grupos de estudo independentes, e coisas do tipo.

Me perguntando novamente sobre esse assunto em um dia desses, resolvi questionar de uma maneira mais direta meus amigos, os quais alguns são ou foram da minha sala em algum momento, sobre o que pensam desse assunto. Tive respostas que envolveram desde que a escola deveria reduzir a quantidade de alunos em sala (hoje por volta de 14 pessoas), passando pelo fato de rumores dizerem que cursos relacionados à exames, como IELTS ou FCE são mais focados, já que eles tem um objetivo mais definido do que "General English" já que o próprio nome mostra não ser muito específico. O consenso geral é que escola ajuda, mas ajuda menos do que o esperado, e que diferentes níveis de inglês e diferentes formas de aprendizado deveriam ser levados muito mais em conta do que normalmente são (ou pelo menos foram por nós).

Finalizando, o ponto em que sempre enfatizo é que estamos quase sempre juntos, usando inglês, e que isso é algo muito válido e importante (já que o que não falta é gente da mesma nacionalidade conversando em sua própria língua por aqui nem tô falando só de brasileiros). Ainda assim, atividades que permitam um contato maior com nativos, como trabalho (remunerado ou como fiz aqui) e até relacionamento Tinder, estamos aí podem definitivamente colaborar na busca pela tão controversa fluência. Enquanto não encontramos a resposta pra pergunta-título do post, o plano é continuar tentando uma aproximação maior com o uso da língua, ao mesmo tempo em que tentamos praticar o máximo possível entre nós, e também sem abandonar de vez a escola, afinal lá é sempre possível conhecer gente nova, treinar a conversação e claro, aprender alguma coisa.

Edit: talvez o post tenha ficado um tanto quanto "deprê", e possa parecer que me arrependo do intercâmbio e coisas do tipo, então fica a observação: de forma alguma me sinto arrependido, e o contexto completo do intercâmbio (que também inclui a escola) tem me proporcionado experiências únicas, as quais acredito que jamais viveria se não fosse estando imerso numa outra realidade. Então, se está lendo esse texto e pretende estudar fora, não tenha dúvidas: vem logo! :)

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Pé na estrada: Dublin


Sei que nesses quase 3 meses fora do Brasil ainda não viajei quase nada, mas acabou juntando o medo de gastar dinheiro sem estar trabalhando com uma certa falta de propósito e a coisa simplesmente não fluiu. Mas isso vai mudar em breve, podem apostar.

Na última segunda-feira, dia 3 de Agosto, foi feriado na Irlanda. É mais um dos famosos "bank holidays" que pelo que vejo ninguém sabe por que existe, mas o importante é aproveitar. Acabei sabendo desse feriado apenas alguns dias antes, logo não deu pra planejar muita coisa. Junto de mais dois amigos viagem sem solidão dessa vez, pensamos em ir pra Irlanda do Norte, mas não tinham muitos hostels disponíveis, e o fator "libras esterlinas" acabou sendo um desmotivador pra todo mundo.

Com isso, e pra não ficar sem fazer nada em todos os 3 dias do recesso, acabamos decidindo ir pra Dublin. Seria um "bate e volta", ou seja, ir, ficar um bocado de tempo durante o dia e voltar, sem precisar preocupar com acomodação. Também era uma vergonha estar aqui esse tempo todo e não ter visitado a capital do país até então, né?!

Montamos um roteiro de um dia na cidade, baseado nesse post do Barbaridades, e em alguns outros que procurei de última hora. Basicamente nosso plano era: tomar café da manhã pelo centro; fazer um Walking Tour pela cidade (conforme indicado no post da Bárbara); ir almoçar em um festival de comida que estava anunciado no Facebook; passar no Stephen Green Park; dar uma volta nas principais ruas do centro (como O'Connell e Grafton Street), algum passeio como no Trinity College ou Guinness Storehouse; Phoenix Park, e pra finalizar o dia, Temple Bar.

Como já é de se imaginar (principalmente pra quem conhece os lugares, a distância entre eles e os tempos de visitação), não deu tempo de fazer tudo. Pegamos o ônibus na rodoviária de Galway às 6:15hs, e DEVERÍAMOS ter chegado 2 horas e meia depois. Digo deveríamos porque os inocentes aqui não perceberam que tinham que descer do ônibus ANTES de ele ir pro aeroporto, que fica a uns 15 minutos da parada no centro. Conclusão: após meu amigo ver com o motorista se era possível descermos após a parada e descobrir que não, fomos pro aeroporto. O legal é que chegando lá, eles nos permitiram voltar no ônibus que fazia o sentido contrário, e descemos em Dublin no lugar correto! Salvo mais uma vez pela simpatia irlandesa :)

Estando mais de meia hora atrasados, e já em cima da hora do passeio guiado que agendamos pela internet, só deu tempo nos localizar e correr pro Dublin Castle, ponto de partida da "aventura" de quase 3 horas. Mas já nesses primeiros momentos fiquei com uma sensação meio estranha com relação à cidade, mas volto nisso no final da história.

O guia do walking tour era muito simpático e engraçado, e haviam várias pessoas (acho que mais de 20) de todos os cantos do mundo: americanos, franceses, belgas, australianos, canadenses, cingapurianos eu pesquisei essa palavra, pois não sabia a nacionalidade das pessoas da Cingapura, etc. O passeio foi muito legal, recheado de informações, e visitamos lugares como o Dublin Castle, uma igreja não muito grande que não lembro o nome, as partes cultural e festiva do Temple Bar, rio Liffey, Trinity College, e terminamos no Stephen Green Park. 

Depois disso, famintos, fomos procurar o tal festival pra comer alguma coisa, mas oh: pra mim foi um belo fracasso. Ele se resumia a umas 6 ou 7 barracas num canto do Temple Bar, e nenhuma tinha de fato algo pra almoçar. Meu amigo resolveu convidar uma amiga também coreana moradora de Dublin pra almoçar com a gente, e ela indicou um restaurante mongol bem barato. A forma de servir comida é meio maluca: com uma "cumbuca" você se serve de alguns vegetais e macarrão, e escolhe outra cumbuca com carne (porco, frango, frutos do mar, etc). Depois tem uma seção de temperos (tipo ervas, pimenta, essas coisas), e uma de molhos. Quando acaba de servir, deve-se entregar os dois recipientes pra colocarem tipo em uma chapa e misturar tudo. No final, é até bom, e o preço (5 euros) não é nada mal.

Após comer e ouvir várias histórias sobre a vida (e os perigos, segundo a coreana) em Dublin, ficamos na dúvida entre ir na fábrica da Guinness e no Phoenix Park ou não, já que ambos tomariam por volta de 30 minutos de caminhada pra chegar, e mais um bom tempo pra conhecer. Acabamos visitando o mercado coreano e depois o brasileiro. Tenho que confessar que ver Guaraná Antarctica e alguns ingredientes de comida brasileira fizeram meus olhos brilharem justo eu, que sempre achei que isso fosse bobeira. Mesmo não sendo muito barato, acabei comprando algumas coisas, mas mais pelo fato de saber que não teria oportunidade parecida por algum tempo, já que aqui em Galway não se acha isso facilmente.

Depois de tomarmos um café (e meu Deus, como tem cafeteria no centro de Dublin! Acho que tem mais do que pub, haha), fomos dar uma volta na Grafton Street, já que minha amiga queria conhecer o local onde se passa a cena inicial do famoso filme Once. O local, que pra mim basicamente parece a rua de maior comércio aqui de Galway expandida umas 10 vezes, estava bastante movimentado, e deu pra se divertir um pouco vendo os artistas de rua, e na loja da Disney! infância eterna.

Depois fomos pro Stephen Green Park de novo, já que ficava no final da rua, e só tínhamos visitado a entrada quando fizemos o tour. Ficamos lá por um tempo aproveitando o sol, e depois fomos pro Temple Bar comer alguma coisa. Tentei achar algum restaurante brasileiro, pois meus amigos queriam conhecer, mas só encontrei um aberto, e já estava lotado. Acabamos comendo burrito em um restaurante mexicano o meu sem pimenta porque não sou obrigado. Depois disso, já sem muita coisa pra fazer e já cansados e com frio, optamos por adiantar a volta em uma hora, no ônibus de 21:45hs (que chegou aqui pouco mais de meia-noite, debaixo de MUITA chuva).

Agora as considerações, mas antes, um detalhe: de antemão quero deixar claro que não gosto de comparações, pois elas costumam sempre ser tendenciosas e superficiais, mas nesse caso, e até levando em conta a possibilidade de morar em Dublin no futuro pelo menos enquanto faço meu "curso profissionalizante", a comparação foi inevitável. Também tenho que frisar que só visitei algumas partes da cidade (acho que Dublin 1 e 2), o que seria somente equivalente ao centro pelo que entendi, ou seja, minha opinião se baseia apenas nessas àreas.

Indo direto ao ponto: o clima estava perfeito (já tinha uns bons dias que não via o sol, ou seja, muito melhor que aqui), mas se pudesse dizer o que vi da cidade em uma definição rápida seria: feia, suja e basicamente com cara de cidade grande, o que pode ser bom ou ruim, dependendo da pessoa. Não sei se realmente já me acostumei com Galway, mas poder olhar ao redor e só ver construções enormes, enquanto aqui praticamente não se tem prédios e se vê belas paisagens por todo canto, fiquei com uma sensação de estar "preso" boa parte do tempo. A quantidade de vezes em que ouvi português nas ruas foi incontável. Galway tem uma quantidade boa de brasileiros, mas acho que ainda bem longe do que é Dublin. Apesar de tudo, a cidade parece ter muita coisa pra fazer, muitos lugares pra visitar, e tanto neles quanto em restaurantes há sempre opção de preços reduzidos pra estudantes.

Talvez por ter lido BASTANTE sobre a cidade ainda na minha época de buscas para o intercâmbio, em muitos lugares tive a impressão de que eu já os conhecia (às vezes até o nome), e nada realmente me surpreendeu, positiva ou negativamente. Mas acho que especialmente depois da conversa com a coreana moradora da cidade, que enfatizou todos os perigos e problemas de lá, fiquei ainda mais desapontado. Sendo de BH, uma das maiores cidades do Brasil, não me sinto exatamente apegado a uma vida interiorana, mas minha sensação em Dublin foi de poder ter os mesmos problemas de segurança que teria no meu país, o que é uma coisa que definitivamente não sinto falta (e que simplesmente não existe aqui em Galway). Na verdade Dublin pra mim pareceu São Paulo nas vezes em que estive lá. Apesar de sempre passar por lá muito rápido e sempre à trabalho, a atmosfera de "cidade grande" (e quando digo grande é realmente grande, maior que BH) com todos os benefícios e malefícios disso esteve presente o tempo todo.

Acho que tudo isso pode mesmo ser uma impressão particular minha, até levando em conta ter ficado bem traumatizado depois que fui assaltado na minha cidade, e me sentir "em estado de alerta" o tempo todo em lugares assim. Em termos de comparação, meus amigos ficaram encantados com o dinamismo e o tamanho da cidade além do clima, e falaram várias vezes em querer se mudar pra lá. Isso é algo que eu não pretendo considerar, pelo menos não nas regiões que estive (e realmente acredito que mais afastado do centro as coisas possam ser melhores).

Resumindo, foi interessante conhecer um lugar sobre o qual eu tinha ouvido falar tanto mas nunca tinha visitado, e que, querendo ou não, devo voltar no futuro. De qualquer maneira, tem galeria de fotos de novo no final do post tiradas pela minha amiga, pois não tive paciência e fiquei com um medinho de usar celular em alguns lugares. Espero que essa seja a última viagem com balanço não muito positivo. Aliás, a próxima já está planejada pro próximo mês, e acho que vai ser bem legal, capisce? :D